A carne é fraca: por trás dos impactos da cadeia industrial da carne

Evento reúne pesquisadores para debater o tema - "O modelo de produção de carne é insustentável para o planeta. É uma cadeia que provoca desmatamento, maus tratos aos animais e a carne é produzida com bastante uso de fármacos". A afirmação é de Maureen Santos, coordenadora de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil. A partir de ideias como essa, na semana que vem a Fundação reúne André Campos, membro da Repórter Brasil; Julianna Malerba, assessora da Fase e integrante da Rede de Justiça Socioambiental e; Sérgio Schlesinger, um dos autores da edição brasileira do Atlas da Carne e Maureen Santos para debater os impactos da cadeia industrial da carne.

 

 

Evento sobre a cadeia industrial da carne

O Brasil é o maior exportador de carne de frango e de soja do mundo, segundo a publicação "A Ascensão Dos Gigantes da Carne". Para manter o superávit comercial, o país está cada vez mais dependente dessas commodities. Em meados de 2000, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na criação dos "campeões nacionais", as corporações envolvidas nesta cadeia se tornaram centrais no atual modelo da economia brasileira. Nos últimos meses, este cenário foi incrementado com escândalos que envolvem a JBS, maior corporação do ramo, relacionados a venda de carne estragada,  a famosa operação Carne Fraca; esquemas de pagamentos de propina; e fraudes em aportes do BNDES. Para além deste poderio econômico e esquemas ilegais, a cadeia industrial da carne causa impactos graves socioambientais.

A cadeia da carne tem ligação direta com o desmatamento. O aumento da produção de carne e grãos para ração animal transformou a paisagem brasileira nos últimos anos. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estima que 7.898 quilômetros quadrados foram desmatados entre agosto de 2015 e julho de 2016, grande parte no bioma do Cerrado. Nesse sentido, para o especialista no tema Sérgio Schlesinger "os problemas sociais e ambientais causados pela pecuária vão muito além das áreas de pastagem."

Outro problema presente na cadeia industrial da carne são as condições de trabalho, que tem sido constantemente denunciado e combatido pela organização Repórter Brasil: "A indústria não consegue rastrear a origem dos bois desde o nascimento até o abate. Fazendas que utilizam trabalho escravo ou que desmatam ilegalmente utilizam intermediários para "esconder" os crimes e vender seus animais aos frigoríficos," afirma André Campos, que estará presente no evento e é membro da organização.

A flexibilização das leis ambientais também se conecta com a cadeia da carne. Juliana Malerba, da Fase, defende que há "um enorme desequilíbrio na correlação de forças, com uma capacidade quase ilimitada dos grupos no poder de ali se manterem, sem que necessitem fazer concessões. Temos assistido não apenas a uma rápida reversão de direitos, mas também a hegemonização de formas predatórias e ambientalmente insustentáveis de ocupação e uso do território brasileiro".

O evento também pretende refletir sobre possíveis alternativas ao modelo vigente. Produzir e consumir carne localmente seria uma saída, evitando os impactos do transporte de grandes distâncias?  Como podemos fortalecer a agroecologia, agricultura familiar de trabalhadores rurais e comunidades tradicionais que resistem ao modelo vigente?

O debate acontece no Rio de Janeiro e terá transmissão ao vivo pela página do Facebook da Fundação Heinrich Böll.

Sobre os participantes:

André Campos - jornalista formado pela USP e pesquisador especializado em investigações sobre cadeias produtivas. É membro da Repórter Brasil desde 2006. Estuda as condições trabalhistas, os impactos ambientais e os problemas fundiários ligados à produção de carne do Brasil, incluindo os elos que ligam os problemas do setor aos mercados consumidor interno e internacional.

Julianna Malerba - doutoranda em Planejamento Urbano e Regional, pela UFRJ, e assessora nacional da Fase. É membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e colunista do Blog Brasil em 5.

Maureen Santos - ecologista, coordenadora de Justiça Socioambiental da Fundação Heinrich Böll Brasil, professora do dept. de Relações Internacionais da Puc Rio e pesquisadora do BRICS Policy Center.

Sérgio Schlesinger - Um dos autores da versão brasileira do Atlas da Carne e da pesquisa publicada no livro "Cadeia Industrial da Carne". Consultor da Fase. Há mais de quinze anos se dedica a estudos sobre a cadeia agropecuária industrial brasileira, tendo publicado outros livros com a Fase, como " O grão que cresceu demais", "Onde pastar' e "A febre dos agrocombustíveis". 

Annette von Schönfeld (Abertura) - Diretora do escritório da Fundação Heinrich Böll no Brasil, Annette dirigiu o escritório da Fundação no México de 2012 até fevereiro de 2017 e entre 2006 e 2012 trabalhou como diretora do departamento América Latina na sede da Fundação em Berlim. 

A Fundação Heinrich Böll está presente em mais de 30 países apoiando organizações da sociedade civil para a garantia de direitos e fortalecimento da democracia. O tema da cadeia industrial da carne ganhou destaque em suas atividades com o lançamento da primeira edição do Atlas da Carne em 2014, na Alemanha. A publicação já foi editada em quatro línguas com grande repercussão mundial. No Brasil, a edição em português foi lançada em 2016 e é record de downloads no site da Fundação.

Serviço

A carne é fraca: por trás dos impactos da cadeia industrial
Onde: Rua Jardim Botânico 512. Jardim Botânico. Rio de Janeiro.  
Transmissão ao vivo na página do Facebook da Fundação Heinrich Böll
Quando: 3 de maio, quinta-feira
Para participar: sabrina.strauss@br.boell.org - vagas limitadas