Observatório dos trens é lançado no Rio de Janeiro

Todos os dias, a estudante Joana Bonifácio pegava o trem a caminho da Universidade, a mais de 100km de casa, enfrentando cerca de 4 horas de trajeto diárias. A estudante de 19 anos era a segunda pessoa da família a ingressar no ensino superior, sendo o orgulho dos pais Teresa e João. No dia 24 de abril de 2017, aos 19 anos, Joana faleceu na estação de Coelho da Rocha, em São João de Meriti: Ao tentar embarcar no vagão, uma das suas pernas ficou presa à porta, fazendo com que Joana caísse no vão entre o trem e a plataforma, sendo atropelada pela composição. Tratado como negligência, caso isolado e até suicídio, estudos da Casa Fluminense e do Observatório dos Trens mostram uma estatística triste: Entre 2008 e 2018, aconteceram 368 casos semelhantes ao de Joana. 

Trem lotado

No dia 25 de março foi lançado  o Observatório dos trens, uma iniciativa de monitoramento e registro de dados a respeito da precarização do transporte público na região metropolitana do Rio de Janeiro. No evento, o livro “Não foi em vão”, inspirado pela história da estudante Joana Bonifácio, foi relançado. 

O Observatório dos Trens é um projeto de disputa de políticas sociais, de reparação, de direito à memória e acesso à cidade. Comandado por Rafaela Albergaria, Mestre em Serviço Social, buscará monitorar denunciar os problemas e apresentar  soluções para o acesso a um transporte público de qualidade.

O evento contou com uma mesa redonda intitulada ‘O Luto é Luta: Trilhando caminhos por direitos e políticas de existência nas periferias’, mediada por Rafaela Albergaria, e com a presença de Marcelle Decothé (Instituto Marielle Franco), Prof. Dr. Lenin Pires (UFF e InEAC), Vitor Mihessen (Casa Fluminense) e Teresa Bonifácio, mãe da jovem Joana Bonifácio, morta enquanto tentava embarcar uma composição de trens em 2017.

Mesa O Luto é luta
Mesa redonda ‘O Luto é Luta: Trilhando caminhos por direitos e políticas de existência nas periferias’. Ao Da esquerda para a direita: Vitor Mihessen (Casa Fluminense), Teresa Bonifácio (Mãe de Joana Bonifácio), Rafaela Albergaria (Obs. dos Trens), Lenin Pires (UFF), Marcelle Decothé (Instituto Marielle Franco).

Em fala, nossa coordenadora Marilene de Paula agradeceu o convite ao primeiro evento presencial de um parceiro desde o início da pandemia e destacou: “O observatório nos traz essa esperança de enfrentamento às desigualdades, a esperança de que a sociedade civil não vai se calar. Na Fundação, a gente acredita muito nesse apoio coletivo, de mobilização popular. É muito bom estar aqui e sentir essa energia de todos vocês. ”.

Apesar dos dados alarmantes, foi anunciado um reajuste oficial nas passagens dos transportes públicos municipais do Rio de Janeiro, incluindo os trens. O Observatório tomou a iniciativa de abrir um abaixo-assinado contra o aumento nas tarifas, consideradas abusivas. Confira o abaixo-assinado contra o aumento das passagens.

Lançamento do Observatório dos trens
Palestrantes e público reunido. O evento foi encerrado com a apresentação do grupo As Branquelas do Trem, exaltando as manifestações culturais de artistas que se apresentam nos ramais da Supervia.

Relançamento da publicação “Não foi em vão”

Em 2017, como fazia todos os dias, a jovem Joana Bonifácio tentou embarcar em uma composição de trens para chegar à faculdade. No entanto, Joana e teve o pé preso à porta de um vagão, sendo arrastada por mais de 20 metros após a partida da composição, posteriormente caindo no vão com a plataforma e sendo atropelada. O caso foi tratado pela Supervia inicialmente como suicídio e depois como irresponsabilidade da jovem. 

Foi a partir da história de Joana que os pesquisadores Rafaela Albergaria, João Pedro Martins e Vitor Mihessen decidiram contar a história de Joana em uma publicação e posteriormente  criar o Observatório dos Trens, abordando os problemas que circundam o sistema ferroviário e mostrando que o caso de Joana não foi um acidente.

A Fundação Heinrich Böll apoiou a produção do livro que pode ser baixado gratuitamente na íntegra.

Leia aqui  “Não foi em vão: Mobilidade, desigualdade e segurança nos trens metropolitanos do Rio de Janeiro”.