Não foi em vão
Quem foi a Joana?
Mulher preta e pobre, que vivia em uma região periférica e sonhava com uma vida melhor por meio do acesso à educação.
Joana também era meiga, amorosa e batalhadora. Nasceu em 1997 e passou toda a sua vida na mesma casa, no bairro Coelho da Rocha, em São João do Meriti (RJ), apoiada e incentivada pela família a buscar novas oportunidades por meio da educação. Foi para mais longe de casa apenas quando realizou o sonho compartilhado por seus familiares de ingressar no ensino superior, no curso de Biologia, da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO), localizada no bairro de Campo Grande, subúrbio carioca, a 44 quilômetros de sua casa.
Percurso interrompido
Os desafios de Joana não acabaram com o sonho realizado. Ela madrugava todos os dias para viajar por mais de duas horas em transportes superlotados, precários e abafados. E ela resistiu. Até que chegou o dia que o transporte público não apenas a privou dos estudos, como da vida.
Se é recorrente, não é acidente
Joana não é um caso isolado. Ela faz parte de uma realidade que é isolada de direitos e privilégios, devido à sua cor, classe social e acesso às oportunidades. Entre 2008 a 2018, na Região Metropolitana (RMRJ), aconteceram 368 homicídios culposos por atropelamento ferroviário nos ramais e estações de trem de passageiros do Rio de Janeiro.
Mobilidade e investimento público
A diferença orçamentária para o investimento em infraestrutura viária revela a escolha por parte dos governos de territórios que devem ou não receber recursos com um evidente e histórico privilégio das áreas turísticas, mais abastadas e onde moram os tomadores de decisão nessa metrópole. O subúrbio é atendido com obras de maquiagem, em estações específicas, “olímpicas”, que vão cumprir qualquer outro papel que não a redução dessas desigualdades.
Detalhes da publicação
Índice
Apresentação
Introdução
A escrita implicada: quem somos e de onde vmiemos
Trajetórias
Joana: trajeto e trajetória da família Bonifácio
O caminho para universidade
Do luto à luta
A descoberta de outros casos e formação da rede
Se é recorrente não é acidente
Violência sistêmica: atropelamentos ferroviários entre 2008 e 20182
Racismo como determinante
Quem morre nos trens do Rio
Conclusão e recomendações
Propostas para a infraestrutura de transporte do Rio
Propostas para a gestão e a regulação da mobilidade urbana
Propostas para preservar o direito à memória e para o enfrentamento ao racismo