Em 17 de março, a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca. O objetivo era desmontar uma quadrilha instalada sobretudo no Paraná que burlava auditorias nos frigoríficos. Descobriu-se que o produto estava sendo vendido após o vencimento. O esquema contava com integrantes no Judiciário e no Parlamento, e envolvia grandes corporações brasileiras do setor. Neste contexto, a coordenadora de Justiça Ambiental da Fundação Heinrich Böll (hbs), Maureen Santos, foi convidada a dar algumas entrevistas. A hbs edita uma publicação chamada “Atlas da Carne”, que demonstra os impactos sociais e ambientais da produção industrial de proteína animal. Para Maureen, o problema não se restringe a um esquema de burlagem de auditorias. Existem inúmeras outras consequências do modelo atual de produção de carne, baseado na lógica industrial.
“Temos que aproveitar que esse assunto está sendo muito comentado para debater o que a gente come e o modelo em que a gente está inserido. Não é só uma questão de carne estragada. Faz parte do sistema em que a carne é produzida com bastante uso de fármacos e hormônios e que percorre distâncias imensas para chegar ao nosso prato. É um modelo de produção insustentável para o planeta. Todas essas questões estão sendo invisibilizadas pela mídia para tratar apenas da carne estragada”, disse Maureen em entrevista para o Brasil de Fato.
Para o site da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), Maureen criticou o modelo de desenvolvimento no qual se sustenta a lógica industrial da produção de carne. “Quando você favorece – e com muito dinheiro – setores do agronegócio em detrimento da agricultura familiar e camponesa, que é quem coloca comida de qualidade na mesa do brasileiro, que gera emprego, que tem menos impacto ambiental, isso são escolhas.”
Ela também deu entrevista para o Programa Faixa Livre, na Band AM (1360 Hz). Na entrevista, frisou o fato de que o planeta não tem recursos para atender ao crescimento de demanda de carne na escala atual, em especial sob este modelo vigente. “Quando a cadeia de produção se consolida em grandes grupos industriais, fica praticamente impossível a coexistência com pequenos produtores. Então a gente projeta um futuro bastante complicado. E há uma expansão cada vez maior”, disse. Vale assistir, ainda, à entrevista que Maureen deu a Bela Gil em seu canal de youtube, ainda antes da operação da PF.
O Atlas da Carne está disponível para download, em PDF, em quatro idiomas. Você também pode ler em formato de livro digital.