De olho na COP30: O que está em jogo

Entre os dias 10 e 21 de novembro, Belém sediará a 30ª Conferência das Partes (COP30) sobre Mudança do Clima. Este é um evento anual realizado pela ONU e que pela primeira vez acontece na Amazônia brasileira, um espaço diverso, de muita riqueza e de conflitos. Aliás, se quiser conhecer mais sobre esta região, conheça o nosso Atlas da Amazônia Brasileira! 

Repensar nossa relação com a natureza é fundamental e a Fundação estará acompanhando as negociações e os diálogos da sociedade civil para apoiar e contribuir com as discussões, potencializando as vozes dos territórios e visibilizando experiências e caminhos de futuros positivos. 

E para quem não estará em Belém acompanhando as negociações in loco, compartilhamos aqui informações ao longo das próximas semanas para ficarmos de olho. 

Negociações oficiais e seus temas:

Durante os dias das negociações, representantes de mais de 160 países estarão reunidos para discutir vários temas relacionados às mudanças climáticas. Alguns deles terão debates cruciais e potenciais acordos, que poderão trazer avanços ou retrocessos. Compartilhamos alguns deles aqui:

  1. Financiamento climático

O tema do financiamento climático encontra-se num momento crítico em 2025.  Um dos princípios mais importantes no debate climático, é o de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, que reconhece o papel dos países desenvolvidos em liderar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento, por sua responsabilidade histórica na emissão de gases de efeito estufa. Para combater as mudanças climáticas é importante que os países em desenvolvimento tenham uma mobilização de recursos adequada e suficiente, e que não gere ainda mais dívidas.

A Nova Meta Coletiva e Quantificada (NCQG, sigla em inglês) para o financiamento climático, acordada na COP29, é decepcionante. Ela prevê que os países desenvolvidos “assumam a liderança” para mobilizar “pelo menos” US$ 300 BILHÕES por ano até 2035. 

Por causa disso, houve uma proposição para a construção de um relatório que aponte um “ROTEIRO DE BAKU A BELÉM” de US$ 1,3 TRILHÃO oriundo de todas as fontes — um valor mais próximo das estimativas de financiamento internacional total que os países em desenvolvimento precisam para atingirem as metas climáticas. Este relatório deverá ser discutido durante a COP.

Parte da sociedade civil acompanha com bastante atenção esse debate (a Fundação lançou em 2025 uma série de textos explicativos e um infográfico sobre financiamento climático) e além de demandar uma quantia maior e mais apropriada à necessidade dos países em desenvolvimento, também procuram entender de que forma este valor chegará aos países, sob quais condições. 

Também sobre o tema, o governo brasileiro, junto com outros países de floresta tropical, lançarão o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF. Quer saber mais sobre financiamento climático e o TFFF: Acesse nossas publicações e a de nossos parceiros aqui:

  1. NDC – contribuição nacionalmente determinada 

As NDCs são as metas voluntárias que cada país se comprometeu na redução de emissões de gases de efeito estufa para combater as mudanças climáticas. As NDCs firmadas no Acordo de Paris têm períodos de revisão a cada 5 anos e até o momento, 74 países mandaram suas metas ajustadas, pouco mais de 1/3 dos países que fazem parte. Um número ainda reduzido, que pode trazer complicações para o compromisso de países na redução dos gases de efeito estufa, principalmente em um momento de saída dos EUA da UNFCCC. 

Importante mencionar e reconhecer o papel das NDCs, que estabelecem as linhas de base e os cortes que deverão ser feitos em cada setor para limitar o aquecimento global a menos de 1,5 °C, principal meta do acordo firmado em 2015. E é um instrumento que, reconhecidamente, trouxe resultados importantes. Sem ele, não haveria tantos países preocupados em reduzir suas emissões de GEE. Mas o pouco número de NDCs revisadas enviadas reflete uma preocupação para o futuro. 

  1. Adaptação

Um dos principais debates na COP, e que detém muita atenção da sociedade civil é o tema da adaptação. Como bem disse a Presidência da COP30 em sua oitava carta, “Sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador da pobreza”. Com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e com 1.1 bilhão de pessoas vivendo em situação de pobreza multidimensional aguda[1], discutir e promover ações que reduzam as vulnerabilidades e respondam aos efeitos das mudanças climáticas se torna prioritário.

A partir de uma meta global de adaptação estabelecida no Acordo de Paris, os países começaram na COP28 a discutir uma lista de indicadores que pudessem mensurar o progresso sobre a meta. A proposta para Belém é de se chegar a 100 indicadores. 

  1. Transição Justa 

As negociações também avançam no tema de transição justa, sem resolução na COP29 em 2024. As discussões se dão buscando a implementação do Programa de Trabalho para uma Transição Justa (JTWP), criado em 2028. Porém, existe ainda uma falta de clareza sobre o que significa transição justa para os países. Grande parte dos países em desenvolvimento buscam uma visão mais holística, de um olhar para uma transformação social e econômica a partir de uma transição na matriz energética que se afaste dos combustíveis fósseis e promova justiça climática. Enquanto isso, países desenvolvidos olham de forma mais focada na transição energética apenas e os impactos no trabalho e nos direitos sociais, sem entrar no debate sobre deixar para trás os combustíveis fósseis. Este é um tema sensível nas negociações e muita discussão é esperada. 

Quer saber mais sobre o tema? Acesse o documento da Plataforma Cipó: https://plataformacipo.org/wp-content/uploads/2025/06/web_CIPO_PB_TRANSICAO-JUSTA-1.pdf  

  1. Novos Temas (e outros antigos) e suas relações com as mudanças climáticas

As mudanças climáticas impactam diversos setores, mas são consequências de um modelo de produção e consumo que demanda cada vez mais os escassos recursos de nosso planeta - seja na mudança do uso do solo, na produção dos alimentos ou na infraestrutura para as novas tecnologias. Uma questão, por exemplo, é como a demanda por inteligência artificial acarreta na construção de mais data centers e infraestruturas, que impactam territórios, avançando em áreas de proteção e terras indígenas, e absorvendo recursos essenciais, como terra e água. Ou como a pulverização aérea de agrotóxicos tem sido vendida como uma forma mais inteligente para a produção agrícola, mas com potenciais enormes e graves de impactos ambientais, nos alimentos, em lençóis freáticos e na população que vive nos territórios.

Todos estes temas serão debatidos em diversos espaços da conferência. A Fundação estará acompanhando e organizando algumas atividades para trazer e visibilizar vozes de quem estuda ou atua desde os territórios com este tema. Fique de olho!

  1. Desafios da presidência brasileira

Há uma expectativa muito grande sobre se o governo brasileiro conseguirá construir consensos significativos no processo negociatório da COP. 

Os conflitos políticos e militares têm fragilizado o multilateralismo, trazendo um contexto bastante complexo para os países. O governo brasileiro construiu processos participativos, como os Multirões (https://cop30.br/pt-br/presidencia-da-cop30/mutirao-cop30) , os enviados especiais (https://cop30.br/pt-br/presidencia-da-cop30/enviados-especiais) e os círculos de liderança (que trazem especialistas e lideranças políticas de diferentes setores e grupos - https://cop30.br/pt-br/presidencia-da-cop30/circulos). O objetivo foi o de contribuir para alavancar soluções que destravem as negociações. Um resultado negativo nas negociações pode trazer frustrações e repercutir de forma negativa tanto no processo multilateral em nível internacional, quanto na visibilidade do governo em nível nacional, uma vez que há crescentes questionamentos sobre as distorções entre algumas políticas e projetos de lei aprovados (como a lei da devastação  e a exploração de petróleo na Foz da Amazônia) e a postura internacional do governo de liderar internacionalmente o processo.

A Sociedade Civil e a Cúpula dos Povos 

Em paralelo ao processo de negociação oficial, movimentos e organizações da sociedade civil estarão organizando a Cúpula dos Povos entre os dias 12 e 16 de novembro, de forma autônoma e soberana, para denunciar as falsas soluções e propor alternativas e caminhos. Será um espaço para diálogo, com milhares de pessoas, vozes dos territórios, de quem protege a floresta, do campo e da cidade. 

Serão muitas trocas e vale muito acompanhar. Iremos compartilhar informações e vocês podem também acompanhar nas redes da Cúpula!

Para além da Cúpula dos Povos, haverá outras iniciativas de diálogo e acompanhamento das negociações. Da cobertura da mídia independente, destacamos a Amazônia Real, a Casa Ninja Amazônica, o observatório de Mineração, a agência Alma Preta,  e a Casa do jornalismo socioambiental, parceiros da Fundação que farão uma cobertura das negociações a partir de diferentes perspectivas. Além disso, a casa das ONGs e o Ciência e Vozes da Amazônia prometem ser espaços de diálogo para discutir temas importantes da agenda climática a partir da sociedade civil. 

A partir de nossos parceiros e aliados, buscaremos compartilhar o maior número de informação para que possam estar a par das negociações. E indicaremos várias organizações e agências de mídia independente, para que possam ter ainda mais detalhes desse evento.