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A Agricultura 4.0 no Brasil

Alta tecnologia na agricultura não é sinônimo de alimentos para a população brasileira
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A chamada digitalização da agricultura ou agricultura 4.0 refere-se ao processo de utilização da alta tecnologia no processo de produção agrícola, sugerindo que a existência de uma quarta revolução industrial – expressa em diversas esferas e setores dos processos produtivos - também se manifesta na agricultura. Um conhecido exemplo de como essa digitalização se dá na prática é a “agricultura de precisão”, feita a partir de tecnologia da informação. Neste presente trabalho, Larissa Bombardi, uma das principais referências nos estudos sobre agrotóxicos e seus impactos no Brasil, apresenta dados relativos à digitalização da agricultura e sua espacialização do Brasil, bem como desafios para o desenvolvimento deste processo, como a ampliação do acesso à internet e de recursos de tecnologia da informação por parte dos estabelecimentos agrícolas.

Há, por parte de alguns atores do campo agroalimentar, uma expectativa de que a digitalização da agricultura contribua no combate à fome e à crise climática. Como síntese, porém, Larissa reforça a ideia de que a digitalização no agronegócio se constitui como uma falsa solução para estes desafios contemporâneos, já que há uma estreita relação entre os processos de digitalização da agricultura e o avanço na produção de commodities agrícolas como a soja, a cana de açúcar, dentre outros. O avanço da biotecnologia e da revolução digital tem trazido outros atores para o setor agroalimentar, como as chamadas Big Data, e outras empresas de tecnologia agrícola, como as agrotech, mas, sobretudo, tem levado a um rearranjo das grandes empresas do setor de agroquímicos para controlar ainda mais este mercado. Acreditamos que uma análise contemporânea das dinâmicas agroalimentares no Brasil e no mundo precisam estar atentas a estas transformações.

A ideia de falsas soluções vem sendo evocada por diversas organizações e movimentos da sociedade civil ao referirem-se a estratégias no campo das negociações climáticas, e também mais recentemente agroalimentares, que não enfrentam causas estruturais destes problemas, mas sim cria oportunidades de mercado para atores poderosos. Na contramão da construção necessária de soluções estruturantes para a fome a insustentabilidade dos sistemas agroalimentares dominantes, na prática, a digitalização na agricultura tem como potencial a criação de mais um nicho de oportunidades para os negócios verdes e, como consequência, a manutenção de injustiças pretéritas. A digitalização se soma a práticas já comuns deste modelo produtivo como o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Produtos básicos da alimentação de significativa parcela da população brasileira, como arroz, feijão e mandioca, em contrapartida, têm tido suas áreas de plantio diminuídas ano após anos. Tem-se, assim, a afirmação que sintetiza a proposta deste trabalho: alta tecnologia na agricultura não é sinônimo de alimentos para a população brasileira.

 

Detalhes da publicação
Data da publicação
Dezembro de 2022
Número de páginas
42
Licença
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Índice

Apresentação...................... Pág. 5

O que é a chamada “Agricultura 4.0”?................. Pág. 7

A tecnificação da agricultura...................... Pág. 13

Produção agrícola X Produção de alimentos...................... Pág. 21

A agricultura necessita de agroquímicos ou os agroquímicos necessitam da agricultura?...................... Pág. 30

A agricultura 4.0...................... Pág. 38

Estado brasileiro e a agricultura 4.0...................... Pág. 38

Considerações finais...................... Pág. 48

Referências bibliográficas...................... Pág. 51