Hidrogênio Verde: Critérios-chave de sucesso para o comércio e produção sustentáveis

A mudança climática já está causando grandes danos em todo o planeta, exacerbando as crises socioeconômicas existentes, principalmente nos países do Sul Global. O consumo de energia proveniente de combustíveis fósseis é responsável pela maior parte das emissões globais de GEE. A invasão russa da Ucrânia também demonstra claramente o papel que os combustíveis fósseis desempenham em conflitos. Portanto, países e comunidades ao redor do mundo devem fazer uma rápida transição para se distanciar dos combustíveis fósseis e trazer a humanidade para um caminho mais seguro rumo a um futuro sustentável, protegendo meios de subsistência e ecossistemas, permanecendo dentro do limite de 1,5°C, conforme o Acordo de Paris.

O hidrogênio verde e seus derivados, produzidos a partir de energia renovável, provavelmente vão desempenhar um papel importante nessa transição. Embora ele seja amplamente preferível aos combustíveis fósseis, ainda precisa de recursos: diferentes materiais naturais, terra e água. Portanto, não é uma panaceia, como algumas vozes defendem. Os principais usos do hidrogênio verde e seus derivados precisarão ser direcionados para aplicações específicas onde a eletrificação não é possível a longo prazo, como transporte aéreo e marítimo de longa distância, algumas indústrias pesadas e como alternativa
flexível para sistemas de energia baseados em fontes renováveis.

A produção de hidrogênio verde requer geração de energia renovável em uma escala tão grande que o Sul Global, com seu excelente potencial renovável, provavelmente se tornará um agente importante nessa transição. Além disso, como os custos de produção serão impulsionados principalmente pelos custos de produção de energia renovável, há um potencial significativo para o comércio internacional de hidrogênio verde ou produtos derivados, exportados de países com potencial
renovável abundante e escalável.

O hidrogênio verde pode oferecer benefícios e oportunidades para o desenvolvimento socioeconômico dos países e ajudá-los a saltar em direção à infraestrutura de energia renovável e tecnologias associadas.

No entanto, também existem riscos para as comunidades locais e os países exportadores localizados no Sul Global contemplados. Desenvolver infraestrutura para um mercado de hidrogênio verde, então, é uma prioridade, especialmente para muitos governos de nações ricas. Mas o mercado emergente de hidrogênio verde deve ser moldado de forma a levar em consideração os interesses e direitos de todas as partes envolvidas, em uma situação que é marcada por fortes desequilíbrios de poder. Nós, a Fundação Heinrich Böll e Pão para o Mundo, acreditamos que é necessária uma intervenção política
apropriada para orientar a expansão do investimento internacional e o comércio de hidrogênio verde e seus derivados em uma direção sustentável. Essa sustentabilidade terminaria beneficiando o desenvolvimento de longo prazo do setor. Portanto, deve ser do próprio interesse de formuladores de políticas, investidores e comunidades afetadas moldar regras que todas as partes envolvidas cumpram.

Passamos um tempo considerável interagindo com organizações da sociedade civil e outras importantes partes interessadas em potenciais nações exportadoras do Sul Global, em um processo de consultas “de baixo para cima”. Esses diálogos se concentraram no papel fundamental que o comércio de hidrogênio verde poderia desempenhar em suas economias e, particularmente, na identificação e formulação de um conjunto de propostas de padrões, instrumentos jurídicos e processos políticos, garantindo assim investimentos sustentáveis e o comércio justo de hidrogênio verde.

Precisamos aproveitar a oportunidade e moldar o comércio emergente de hidrogênio verde agora, em sua infância. Este documento fornece orientação para tomadores de decisão e investidores para garantir um comércio sustentável de hidrogênio que contribua para uma transição energética justa e honesta, bem como para a segurança energética, ao mesmo tempo em que ajuda a mitigar as mudanças climáticas.