A polinização é a transferência de grãos de pólen entre órgãos masculinos e femininos das flores. Esse processo é importante para a reprodução das plantas e resulta na produção de frutos e sementes que consumimos na nossa alimentação.
A polinização pode ser realizada tanto por animais como por vento ou água. A maioria (76%) das plantas utilizadas para produção de alimentos no Brasil depende da polinização realizada por animais. Além de aumentar a produtividade dos cultivos, a polinização por animais provê frutos e sementes de melhor aparência e qualidade, agregando valor de mercado a estes produtos quando comparados àqueles que podem ser formados na ausência de polinizadores. O valor estimado da polinização para a produção de alimentos no país foi de R$ 43 bilhões em 2018, considerando o valor da produção e o incremento de produtividade associado aos polinizadores. Desta forma, inúmeros cultivos de frutos e sementes consumidos pela população brasileira e exportados são dependentes de polinizadores, como é o caso de soja, café, laranja, maçã, melancia, maracujá, tangerina, melão e castanha-do-brasil. Portanto, os polinizadores geram ganhos em quantidade e qualidade à produção agrícola no Brasil, o que faz com que a conservação dos polinizadores seja um fator central para garantir a segurança alimentar e a renda dos produtores agrícolas, contribuindo para uma vida saudável e para a promoção do bem-estar humano.
Dentre os insetos polinizadores, as abelhas são os principais (71%), mas devemos destacar também besouros, borboletas, mariposas, vespas e moscas. A diversidade da fauna brasileira de insetos associada à polinização de 114 plantas cultivadas ou silvestres, utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos, soma 233 espécies de insetos distribuídos nos seguintes grupos: abelhas (70,8%, 165 espécies), besouros (9,9%, 23 espécies), borboletas (5,6%, 13 espécies), mariposas (5,6%, 13 espécies), vespas (4,7%, 11 espécies), moscas (3%, 7 espécies) e hemípteros (grupo que inclui percevejos, cigarras e cigarrinhas) (0,4%, 1 espécie). As abelhas participam da polinização de 80% destas 114 plantas cultivadas ou silvestres para as quais existem dados disponíveis sobre a polinização e são polinizadores exclusivos de 65% (74) destas. Contudo, certas plantas cultivadas ou silvestres dependem exclusivamente ou primordialmente de outros insetos para a polinização, como é o caso da polinização por besouros em flores de pinha e araticum, de mariposas em flores de mangaba e de moscas em flores de cacau.
Apesar da importância biológica, social e econômica, os polinizadores estão ameaçados por diversos fatores, tais como perda de habitat, poluição ambiental, agrotóxicos, mudanças climáticas, espécies invasoras, doenças e patógenos. Dentre as ameaças, podemos destacar as mudanças no uso da terra, que levam à perda e à substituição de habitats naturais por áreas agrícolas ou urbanas e, consequentemente, a diminuição de locais para construção de ninhos e recursos alimentares utilizados pelos polinizadores. E ainda, os poluentes ambientais, incluindo os agrotóxicos, podem levar à morte (efeitos letais) ou atuar como repelentes dos polinizadores. Os agrotóxicos também podem causar efeitos tóxicos subletais, como desorientação do voo, perda da habilidade dos polinizadores para encontrar recursos florais, redução da prole, entre outros. Além destas, as mudanças climáticas podem modificar o padrão de distribuição das espécies, a época de floração e o comportamento dos polinizadores. A estas ameaças ambientais, adiciona-se ainda ameaças biológicas que incluem espécies exóticas, invasões biológicas, declínio e extinção de espécies de plantas das quais os polinizadores dependem, doenças e patógenos. Esses múltiplos fatores não ocorrem de maneira isolada entre si e, em conjunto, representam ameaças aos polinizadores e, consequentemente, à produção de alimentos e à conservação da biodiversidade como um todo no país.
Para diminuir estas ameaças aos polinizadores, promover melhorias para a polinização e aumentar o valor agregado dos produtos agrícolas associados, diversas ações e estratégias podem ser desenvolvidas como promoção de agricultura sustentável, intensificação ecológica da paisagem agrícola, formas alternativas de controle e manejo integrado de pragas e doenças, redução do uso de agrotóxicos, produção orgânica e certificação ambiental. Além disso, a manutenção e restauração de habitats naturais tende a aumentar a diversidade de polinizadores nativos e a polinização realizada por eles.
Os habitats naturais podem ser mantidos e restaurados por meio da conservação de áreas naturais já existentes como reservas legais e áreas de preservação permanente, plantio de cercas vivas próximas às áreas de cultivo, implementação de corredores ecológicos e recuperação de áreas degradadas com espécies de plantas nativas usadas pelos polinizadores. Estas ações contribuem para garantir recursos alimentares (pólen e néctar) e não alimentares (locais para abrigo e construção de ninhos, resinas e fragrâncias florais) aos polinizadores tanto nos cultivos que eles visitam, como na paisagem do entorno, de forma complementar entre as áreas. Desta forma, podemos identificar diversas oportunidades que podem contribuir para a conservação dos polinizadores e, ao mesmo tempo, gerar ganho em produtividade e maior sustentabilidade na agricultura.