Equilibrando produção, sustentabilidade e biodiversidade

Agricultura e insetos

Os serviços de polinização, controle biológico e manutenção da saúde do solo tornam os insetos vitais para a agricultura. Apesar disso, a atividade é hoje a principal ameaça para a biodiversidade desses animais.

Insetos e seus serviços no Brasil

Os insetos são os organismos mais diversos e abundantes do mundo. Até o momento, os cientistas já descreveram aproximadamente 1 milhão de espécies e ainda há pelo menos mais 5 milhões a serem descritas. É possível afirmar que todos os ecossistemas do mundo dependem dos insetos para funcionar corretamente, pois a diversidade de insetos no planeta é responsável pelo provimento de uma ampla gama de serviços diretamente relacionados ao bem-estar humano. Os insetos polinizadores são os principais responsáveis pela manutenção das áreas naturais e de grande parte das culturas agrícolas do mundo e, portanto, da comida que chega à nossa mesa. Os insetos herbívoros servem de alimento para seus predadores, vertebrados e invertebrados, e regulam a diversidade e produção primária das plantas em áreas naturais. Os predadores e parasitoides (minúsculos insetos que botam seus ovos geralmente dentro de outros insetos) regulam as populações de suas presas e hospedeiros, incluindo pragas agrícolas. Já os insetos decompositores quebram a matéria orgânica, facilitando o trabalho dos microrganismos em disponibilizarem nutrientes no solo.

Apesar da importância desses animais e seus serviços ecossistêmicos, estima-se que cerca de 40% de todos os insetos serão extintos em algumas poucas décadas. Consequentemente, seus serviços serão perdidos na medida em que as espécies desapareçam. Essa constatação pode ser especialmente preocupante em ambientes tropicais, como o Brasil, onde a maior parte da biodiversidade global de insetos está concentrada. Já é consenso entre os cientistas que a principal causa de perda de biodiversidade de todas as espécies no mundo, incluindo os insetos, é o avanço da fronteira agrícola. Isso porque áreas anteriormente diversas são substituídas por plantios em monocultura em áreas extensas na paisagem.

Provedores globais de serviços para a humanidade

A simplificação das paisagens para o uso agrícola faz com que interações importantes entre as espécies sejam perdidas, o que aumenta significativamente a necessidade de intervenção humana. Com a falta de polinizadores, é necessário realizar a polinização de forma não natural. Esse é o caso do maracujá que, na falta de abelhas, deve ser polinizado manualmente, flor por flor, por um produtor. Imagine o trabalho! Em outras culturas dependentes da polinização em que isso não é possível, pode nem haver a produção. O plantio em monocultura oferece um grande banquete aos insetos herbívoros que podem reproduzir-se rapidamente e tornarem-se pragas. Isso faz com que o agricultor tenha que usar agrotóxicos para fazer o papel que os predadores e parasitoides desempenhariam natural e gratuitamente. O uso dos inseticidas, além de gerar resistência nas pragas, pode matar ou afetar o desempenho dos predadores e parasitoides, insetos polinizadores, decompositores e ao mesmo tempo contaminar os alimentos que consumimos e poluir o ambiente. A compactação do solo pelo maquinário agrícola e ausência de insetos decompositores e microrganismos que fazem a ciclagem da matéria orgânica faz com que seja necessário o uso de fertilizantes que também poluem o meio ambiente e aumentam o custo da produção.

Sem chocolate

É evidente que quanto menos insetos e biodiversidade há nos sistemas agrícolas, mais o sistema se torna artificial e dependente da intervenção humana. Nesse ponto, chegamos a uma dualidade. Os insetos desempenham serviços ecossistêmicos essenciais para a agricultura, mas ela é a principal causa de perda de sua biodiversidade. Ao mesmo tempo, as sociedades humanas continuam a crescer e demandar mais alimentos. Para amenizar esse problema, podemos utilizar a própria natureza como modelo para desenhar sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Em um país essencialmente agrícola como o Brasil, as medidas para tornar as paisagens mais sustentáveis para os insetos são urgentes e necessárias. É evidente que existem muitas opções disponíveis para isso – o uso de sistemas agroflorestais, a intercalação de áreas agrícolas com áreas