Crítica à Economia Verde

Prefácio da edição alemã

Rio de Janeiro, 2012. Dezenas de milhares de pessoas vão às ruas contra a “economia verde”. Não foram corporações de petróleo, carvão e agricultura que haviam convocado os protestos, mas movimentos sociais e ONGs, majoritariamente do Sul global e, muitas vezes, organizações parceiras da Fundação Heinrich Böll. 

A ocasião era a Conferência Rio+20 da ONU, ocorrida vinte anos após a Cúpula da Terra de 1992, que tinha por objetivo estabelecer a “economia verde” como um novo paradigma global. Esses protestos contra a economia verde produziram uma repercussão mista. Não deveríamos focar todas as energias na superação da economia “marrom”, baseada na energia fóssil? Não é precisamente economia verde que o movimento ambiental reivindica há décadas? De fato. A pergunta decisiva, porém, é o quê se entende sob essa definição e como o conceito de economia verde é trocado em miúdos. Nem tudo que desfila sob o estandarte verde merece esse adjetivo.

A crítica aos conceitos abreviados e enganosos de economia verde não é dirigida à esperança de um futuro sustentável e de um “enverdecimento” da economia. É dirigida a conceitos que são definidos por atores importantes, como o Banco Mundial, a OCDE ou think tanks ligados às empresas. Eles moldam a imagem do que a maioria hoje entende por economia verde. Querendo ou não, a economia verde tornou-se um tema controverso. Porém, a despeito das controvérsias, o debate aborda a questão decisiva do presente: como podemos operar uma transformação social e ecológica radical da economia e da sociedade, em face das crises que se impõem? Esse é o grande tema da Fundação Heinrich Böll, pari passu com democracia e direitos humanos. Nós acompanhamos essa ruptura de diversas formas – com cenários concretos para uma reforma energética bem-sucedida, uma nova política rural, conceitos alternativos de mobilidade e um urbanismo viável para o futuro. Tampouco nos furtamos a um diálogo com a indústria. Dedicamos uma grande parte dos nossos recursos ao debate sobre a economia fóssil e o complexo agroindustrial. Ao mesmo tempo, damos suporte a vários atores em todo o mundo que lutam por uma nova forma de produção e de vida e experimentam novas ideias de sociabilidade. A fim de impulsionar a “grande transformação” necessária, é preciso duas coisas: alternativas visionárias e mudanças graduais.



Crítica à Economia Verde

Reconhecermo-nos como impulsionadores e uma oficina de ideias que acarreta ocupar-nos com diferentes estratégias e discursos que se propõem a dar contribuições à transformação social e ecológica. O fim do business as usual é politicamente viável há tempos. Mas o “como” da transformação é controverso. Como essa transformação é definida? Com quais instrumentos e mecanismos? Quais são as suas promessas? Não surpreende que essa seja uma discussão polêmica. Mesmo dentro da Fundação Heinrich Böll, diferentes conceitos de economia sustentável, ecológica e participativa são discutidos. O espectro se estende desde projetos de uma revolução industrial verde até a crítica dos conceitos mainstream de economia verde, cuja promessa é a seguinte: efetivaremos o redirecionamento apenas com inovação tecnológica, com mais mercado, e tudo vai ficar bem. Assim, – uma das questões investigadas neste volume é se a expansão de mecanismos de mercado realmente é adequada para frear a mudança climática e o esgotamento ecológico.

Se for correto que “os preços ditem a verdade ecológica”, é de maneira crítica que vemos a financeirização geral da natureza (e do social). Da mesma forma, a relação entre inovação e restrição, eficiência e suficiência, carece de um debate crítico. Igualmente importante é o papel indispensável da política no processo da transformação ecológica. 

Este livro se dedica, acima de tudo, ao confronto com conceitos mainstream de economia verde. Os autores dirigem sua atenção a questões subexploradas nesses conceitos – por exemplo, direitos humanos, participação e democracia – e, paralelamente, discutem o papel da política em um mundo onde os desafios são cada vez mais definidos como imperativos econômicos.

Nessa medida, esta publicação faz parte da própria controvérsia. Os autores tomam posições próprias. É com grande paixão que, dentro da Fundação, conduzimos as discussões sobre saídas da crise ecológica e social. Portanto, diferentes pontos de vista e entendimentos se articulam sobre quais instrumentos, quanto de mercado e de Estado, Prefácio da edição almã quanto crescimento, quais inovações e alianças nos fazem progredir. Este livro pretende gerar atrito produtivo. Ele conscientemente omite uma contraproposta à definição tradicional de economia verde. Desejamos estimular a reflexão e a elaboração, expondo-nos ao debate por um futuro justo e viável na nossa rede global de parceiros.

Toda luta necessita de companheiros. Enquanto refletiam, escreviam e discutiam, os autores contaram com conselhos, ideias e incentivo de algumas pessoas. Gostaríamos de deixar um agradecimento especial às seguintes, por seu tempo e envolvimento na revisão do manuscrito: Christine Chemnitz, Ulrich Hoffmann, Heike Löschmann, Ulrich Brand, Jutta Kill e Wolfgang Sachs. Nosso muito obrigado a Bernd Rheinberg por seu aconselhamento profissional e sua grande paciência.

Berlim, setembro de 2015

Barbara Unmüßig e Ralf Fücks

Presidentes da Fundação Heinrich Böll

SUMÁRIO

Prefácio da edição alemã 

Prefácio 

Introdução 

PARTE UM |
Por que o business as usual não é uma opção 

1| A hegemonia dos predadores climáticos

2| A grande perda de diversidade biológica 

3 | Business as usual na agroindústria 

4 | O mundo como o conhecemos: desigualdade, pobreza e fome 

5 | A economia verde como saída para a crise global? 

PARTE DOIS | Risco total: instrumentos e inovações duvidosas 

6 | Natureza ou capital natural? 

7 | Progresso a serviço da economia verde: a inovação vai resolver tudo? 

8 | Inovações tecnológicas – uma tentativa de síntese

PARTE TRÊS | Pontos cegos da economia verde

9 | Nasce uma estrela ou política ambiental em tempos neoliberais

10 | A sociedade civil entre despolitização e espaços restritos de ação

Conclusão: Precisamos de uma nova ecologia política! 

Notas

Referências

Sobre os autores 

Detalhes da publicação
Número de páginas
182
Licença
Idioma da publicação
Português
ISBN / DOI
978-85- 62669-18- 7