A SOF - Sempreviva Organização Feminista lança a sua nova cartilha: “Trabalho, corpo e vida das mulheres - uma leitura feminista sobre as dinâmicas do capital nos territórios”. A publicação analisa as apropriações que o atual modelo de desenvolvimento faz sobre a vida e o corpo das mulheres.
Para além da crítica, a cartilha introduz as questões-chave da economia feminista como uma forma de valorizar o trabalho e a vida das mulheres. Segundo a publicação, a invisibilidade conferida ao trabalho não remunerado das mulheres contribuiu para manter o baixo nível salarial da mão de obra empregada no trabalho assalariado.
A economia feminista e solidária defende que o trabalho informal, não-remunerado, comunitário, doméstico e de cuidados também devem ser considerados nas análises econômicas. É um modelo que propõe a substituição da lógica da produção de lucros pela lógica do cuidado da vida e da satisfação das necessidades.
O avanço do capital
Propondo demonstrar como as estratégias de sobrevivência e de produção do viver estão constantemente ameaçadas pelo avanço do capital sobre os territórios, a publicação demonstra como a mineração e a construção de hidrelétricas no Brasil afetam diretamente as mulheres e ferem seus direitos.
Para elaborar a cartilha, a SOF realizou entrevistas e oficinas em conjunto com organizações que tem resistido ao avanço do capital nos territórios. No norte de Minas Gerais, há um processo de organização das mulheres na resistência à mineração, atividade que contribui para a contaminação dos solos e da água, prejudicando a economia de subsistência que sustenta as comunidades locais, subvertendo seus costumes e valores. Lutando pelo direito à água potável, as mulheres do coletivo contribuem para assegurar a produção agroecológica, a soberania alimentar e a garantia de direitos.
A mercantilização do corpo e da vida das mulheres
Na implementação de grandes obras, a promessa de geração de empregos e melhoria na qualidade de vida cedem lugar ao aumento populacional, aumento do uso de drogas e do álcool, da prostituição e violência contra a mulher. Segundo dados da Plataforma Dhesca, entre 2010 e 2011 houve um aumento de 75% dos crimes sexuais em Altamira, município impactado pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A divisão sexual do trabalho também é uma realidade nas obras envolvendo a construção da usina. De acordo com a publicação, dos 22 mil trabalhadores contratados, apenas 12% são mulheres, e se o salário mais baixo dos homens gira em torno de R$1.200, o das mulheres fica na faixa de R$800 a R$1.000.
A nova cartilha ainda complementa as reflexões publicadas na cartilha de 2013 sobre prostituição, analisando o circuito dessa atividade no Rio de Janeiro, a prostituição como parte do turismo de negócio em São Paulo, e o turismo sexual no contexto da Copa do Mundo.
A Fundação Heinrich Böll apoiou a publicação.
O PDF está disponível para dowload aqui.
Acesse também a cartilha da SOF sobre prostituição, lançada em 2013.