Gênero e financiamento climático
As mulheres constituem a maioria dos mais de 3,5 bilhões de pessoas no mundo, ou 44% da população mundial, que vivem na pobreza. Também são a maior parcela dos cerca de 700 milhões que estão em situação de extrema pobreza. Além disso, figuram como a maioria dos 750 milhões sem acesso à eletricidade e dos mais de 2 bilhões que ainda cozinham com biomassa tradicional. A expectativa é de que esses números comecem a melhorar lentamente após anos de progresso perdido entre 2020 e 2022 devido à pandemia de Covid-19. Elas são frequentemente afetadas de forma desproporcional pelos impactos das mudanças climáticas, incluindo as perdas e danos crescentes, que agravam as desigualdades de gênero existentes como resultado da persistência de normas e discriminações de gênero. Tanto as mulheres quanto os homens contribuem para as respostas às mudanças climáticas de diferentes maneiras. Os Acordos de Cancún reconhecem que a igualdade de gênero e a participação efetiva das mulheres são importantes para todos os aspectos de qualquer resposta às mudanças climáticas (UNFCCC, 2011). Embora a maioria dos esforços tenha se concentrado na adaptação até o momento, é necessária uma maior ênfase no aumento da participação e da tomada de decisões das mulheres nas ações de mitigação - inclusive para garantir a equidade de gênero em uma transição justa para economias de baixo carbono e aumentando o acesso a empregos verdes (UNIDO, 2021; OIT, 2022 e 2024). Abordar o impacto de gênero das perdas e danos também exigirá mais atenção (ACNUDH, 2023). Para isso, são necessários instrumentos de financiamento climático e alocações de recursos sensíveis ao gênero. Trata-se de usar o escasso financiamento público de modo equitativo, eficiente e eficaz. Também é notório que as decisões de financiamento climático não são tomadas dentro de um vácuo normativo, mas deveriam ser guiadas pelo reconhecimento dos direitos das mulheres como direitos humanos inalienáveis. Muitos fundos climáticos começaram sem levar em conta à questão de gênero. Todavia, na última década, tais fundos fizeram esforços significativos para integrar as considerações de gênero de forma mais sistemática, atualizando e aprimorando as estruturas e políticas de fundos relevantes. Embora tenham sido feitos avanços significativos nos fundos climáticos existentes, são necessárias novas práticas recomendadas para a responsividade de gênero no financiamento de ações climáticas, que abordem não apenas como, mas também o que será financiado, e que melhorem a prestação de contas pelos resultados de igualdade de gênero das ações climáticas.
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Elas são frequentemente afetadas de forma desproporcional pelos impactos das mudanças climáticas, incluindo as
perdas e danos crescentes, que agravam as desigualdades de gênero existentes como resultado da persistência de
normas e discriminações de gênero.