Documentário de Laís Dantas percorre cidades europeias entre março e abril com exibições e encontros que discutem violações de direitos humanos no Brasil

O curta-metragem Desova, dirigido por Laís Dantas e produzido pela Quiprocó Filmes, inicia em março uma série de exibições na Alemanha e em Bruxelas, com uma programação que inclui debates, reuniões com organizações internacionais de direitos humanos e encontros com autoridades europeias. A agenda, que começou no dia 11 e segue até 24 de março, tem como objetivo internacionalizar o debate sobre o desaparecimento forçado de pessoas no Brasil, com foco nas vítimas da violência de Estado na Baixada Fluminense (RJ).
Premiado em festivais nacionais e internacionais, Desova denuncia o desaparecimento forçado de jovens na Baixada Fluminense, uma prática que expõe a negligência e a violência praticada por agentes do Estado. A obra será exibida em cidades como Frankfurt, Dresden, Berlim, Colônia e Bruxelas, em espaços como o Museu Alemão do Cinema e a organização Médico Internacional.
Além das exibições, a comitiva brasileira formada por representantes do movimento de Mães Vítimas da Violência de Estado da Baixada Fluminense, da Quiprocó Filmes, do Fórum Grita Baixada e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) participa de encontros com o Grupo Parlamentar Alemão-Brasileiro e a Comissão para Cooperação Econômica e Desenvolvimento. A agenda inclui também reuniões no Serviço Europeu de Ação Externa e um almoço com os deputados europeus Miguel Urban e Marisa Matias no Parlamento Europeu.
Voz das mães na luta por memória e justiça
A participação das mães vítimas da violência de Estado é um dos destaques da turnê europeia de Desova. Renata Santos, da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência de Estado da Baixada Fluminense, e Joseane Martins, do coletivo “Filhos nos Braços do Pai”, acompanham a comitiva para compartilhar suas experiências pessoais e a luta por justiça.
“Estou muito ansiosa e espero que o filme cause impacto quando for exibido lá fora. Queremos que ele traga mais visibilidade à causa das Mães Vítimas da Violência de Estado na Baixada Fluminense. E não falo apenas do meu filho, mas pelos filhos de todas as periferias do país”, afirma Joseane Martins.
Adriano Moreira de Araújo, coordenador do Fórum Grita Baixada, destaca a importância de fortalecer a rede internacional de apoio aos familiares das vítimas. “Esta é uma oportunidade essencial para internacionalizar o debate sobre os desaparecimentos forçados e o impacto da violência de Estado no Brasil. Esperamos que o Estado brasileiro reconheça a importância de tipificar o desaparecimento forçado como crime, crie programas de atendimento psicossocial para mães e familiares e estruture uma perícia criminal independente”, afirma.
A trajetória de Desova
Filmado na região do KM 32, em Nova Iguaçu (RJ), e em municípios vizinhos, Desova apresenta dados alarmantes sobre os desaparecimentos forçados e expõe o impacto da ausência de respostas do Estado. O curta estreou internacionalmente no 12º Festival Internacional de Cine Político (FICIP), em Buenos Aires, onde recebeu o prêmio de Melhor Filme na Competição Internacional de Curtas-Metragens. Também foi exibido no 19° Brésil en Mouvements (França), na Semana do Cinema Negro de Belo Horizonte, no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul e na VI Mostra SESC de Cinema.
O filme foi viabilizado por uma emenda parlamentar de 2020, do então deputado federal Marcelo Freixo, que também financiou uma pesquisa coordenada pela UFRRJ sobre desaparecidos na Baixada Fluminense. A produção tem apoio do Fórum Grita Baixada e da Fundação Heinrich Böll Brasil.
“O lançamento de Desova na Alemanha é um passo importante para internacionalizar esse debate. O filme dá voz às vítimas e denuncia a omissão do Estado brasileiro frente a uma tragédia cotidiana”, afirma Gabriel Barbosa, produtor do curta e representante da Quiprocó Filmes.
Agenda na Alemanha
A programação internacional de Desova é promovida pela Misereor, organização católica alemã voltada à cooperação internacional, com apoio do pesquisador Jan Simon Hutta, da Universidade de Bayreuth, além de organizações de direitos humanos brasileiras e alemãs. Também participam da iniciativa a Imbradiva, Médico Internacional, Fundação Heinrich Böll, Centro de Pesquisa e Documentação Chile-América Latina, Comitê Marielle Franco, Aliança Livre Europeia e o Serviço Europeu de Ação Externa.
A comitiva é composta por Renata Santos (Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência de Estado da Baixada Fluminense), Joseane Martins (Filhos nos Braços do Pai), Gabriel Barbosa (Quiprocó Filmes), Adriano Araújo (Fórum Grita Baixada) e Nalayne Pinto (Observatório Fluminense da UFRRJ).
Dados que reforçam a urgência do debate
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2022, o Brasil registrou 369.737 desaparecimentos — uma média de 203 casos por dia. Desova dá dimensão humana a esses números ao retratar o sofrimento das mães, a ausência de respostas do poder público e o impacto social de uma violência que persiste.
Sobre a Quiprocó Filmes
A Quiprocó Filmes é uma produtora audiovisual independente do Rio de Janeiro que se propõe a criar narrativas transformadoras. Em seus projetos, a empresa busca provocar reflexões a partir de histórias reais, colaborando com movimentos sociais, ONGs e iniciativas culturais.
Ficha técnica
Direção e Roteiro: Laís Dantas
Produção Executiva: Fernando Sousa e Gabriel Barbosa
Pesquisa: Fernando Sousa e Gabriel Barbosa
Direção de Produção: Luana Fraga
Direção de Fotografia: Laís Dantas
Montagem: Gabriel Barbosa
Apoio: Fórum Grita Baixada e Fundação Heinrich Böll
Realização: Quiprocó Filmes
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