Soluções que vem da periferia devem ser exemplo para os tomadores de decisão.
É preciso mudar as dinâmicas de relação Humano e Meio Ambiente. O cuidado com a natureza é uma sabedoria ancestral que sempre veio das margens no Brasil, sempre pelos povos periféricos e originários, demonstrando que a coletividade sempre é uma resposta que jamais será ultrapassada.
A emergência climática chega como um trator para as comunidades mais vulneráveis a esse processo; e a última edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, reafirmou o descompromisso dos países mais ricos e mais poluidores com os efeitos nefastos das mudanças climáticas causadas por seus sistemas econômicos insaciáveis. Assim, COP após COP, vemos pouquíssimas mudanças sendo realmente implementadas para mudar esse panorama, tornando-se assim um dos maiores desafios da nossa geração, exigindo respostas urgentes e efetivas.
Em 2023, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou oficialmente que o Brasil sediaria a 30ª edição da COP, sendo a cidade de Belém do Pará, uma cidade amazônica, a escolhida para receber o evento no ano que vem sendo reconhecido como a grande “COP da Floresta”. As últimas duas COPs aconteceram em países fortemente petroleiros, que em muitos momentos, acabaram utilizando-se do evento para a articulação de acordos para suas economias, ao invés de um debate orientado sobre a emergência climática. No Brasil, o mesmo risco surge, porém agora com pautas adicionais ao petróleo, como às do crédito de carbono, da agropecuária e da mineração.
Não podemos ser levados por um falso discurso de falar sobre as florestas sem discutir sobre essa população que a habita e que a protege, como se a pessoas fossem meros objetos desses processos da diplomacia internacional. Sobretudo, esse discurso enfatiza uma visão conservadora e preconceituosa da Amazônia e do Brasil, muitas vezes fazendo crer que não existe também uma Amazônia urbana interligada por inúmeras vilas, aldeias, quilombos e comunidades. Lutar por uma COP que privilegie de fato a população mais atingida por essa crise mundial será um dos desafios mais complexos na COP do Brasil. Felizmente, há muitos movimentos organizados no Brasil em prol dessa mudança, muitos deles vindo através da juventude periférica.
Um desses movimentos é o PerifaConnection, uma rede de lideranças que busca amplificar as vozes da juventude periférica em debates nacionais e internacionais. Atuando como uma ponte entre os territórios marginalizados e os espaços de decisão, a rede destaca histórias de transformação que nascem da periferia e que têm o potencial de mudar paradigmas. Através da rede, essas lideranças jovens promovem discussões que ligam as pautas climáticas a questões de equidade racial, gênero e desenvolvimento urbano. Na perspectiva periférica, a justiça climática não é apenas sobre a redução de emissões, mas sobre a transformação de sistemas que perpetuam desigualdades.
O PerifaConnection esteve presente na COP 29, sendo o articulador de um painel super importante no Pavilhão do Brasil: “Das favelas às baixadas: organizações periféricas no enfrentamento ao racismo ambiental, construindo caminhos de adaptação climática no Brasil”. O painel foi realizado em conjunto com outras organizações de juventude articuladas, sendo uma delas a COP das Baixadas, um evento-piloto de conferência do clima destinado às populações periféricas e realizado por uma rede de organizações de juventudes de diferentes contextos e partes da região metropolitana de Belém (PA), antes mesmo de Belém ter sido escolhida como sede da COP 30.