Queridas e queridos parceiros, amigas e amigos da Fundação Heinrich Böll,
Em 2025, lançamos o Atlas da Amazônia Brasileira em Belém, no Rio de Janeiro, durante a COP30, em universidades, em comunidades indígenas e também na Alemanha. O Atlas é, antes de tudo, uma plataforma para ampliar as vozes da Amazônia. Trata-se de uma publicação escrita majoritariamente por autoras e autores da própria região. São 32 artigos que articulam saberes, dados, ancestralidade e ciência para mostrar a floresta e seus povos a partir de suas próprias perspectivas. Ao desafiar lógicas coloniais de produção de conhecimento, o Atlas abre caminhos para pensar soluções climáticas que sejam, ao mesmo tempo, sustentáveis e justas para os territórios e seus povos.
Outro marco importante do ano foi o lançamento do Projeto Futuros Positivos, uma iniciativa da Fundação Heinrich Böll em parceria com o Goethe-Institut e a Visão Coop. O projeto aspira conectar experiências locais de parceiros da Böll em mais de 30 países que inspiram transformações globais — histórias reais de comunidades que cultivam esperança e ação concreta diante dos desafios do nosso tempo. O Mapa Futuros Positivos é mais do que uma plataforma digital: é um manifesto antidistópico, um espaço vivo no qual futuros possíveis ganham forma e visibilidade. As primeiras iniciativas já estão sendo incluídas, e o mapa seguirá crescendo para fortalecer conexões e trocas. Saiba mais aqui.
Em agosto, estivemos em Brasília com os parceiros Lapin e Joio e o Trigo no I Seminário Inteligência Artificial, Meio Ambiente e Justiça Socioambiental. Antes disso, promovemos o Encontro de Cosmovisões: – Inteligência Artificial e Povos Originários, um espaço de escuta e troca com lideranças indígenas. O seminário reuniu ativistas, pesquisadoras(es), organizações da sociedade civil e outros atores políticos para debater os impactos da inteligência artificial sobre ecossistemas, territórios e modos de vida no Brasil. Partimos do ponto de vista de que tecnologias não são neutras: incorporam escolhas políticas e podem tanto reproduzir quanto aprofundar desigualdades — razão pela qual esse debate precisa, necessariamente, incluir o meio ambiente.
Em São Paulo, numa parceria entre os escritórios da Böll de Buenos Aires e do Rio de Janeiro apoiamos o Latina: Encontro Internacional de Mídias Independentes, realizado pela Mídia Ninja. O Latina foi o ponto de encontro de comunicadores, ativistas, jornalistas, artistas e coletivos do Sul Global que estão na linha de frente das lutas por justiça climática, democracia e soberania digital. Foi também uma plataforma de contato para a cobertura colaborativa de mídias independentes para a COP30.
E então chegamos à COP30, em Belém. Os paraenses receberam o mundo com uma generosidade de tamanho amazônico. A Fundação Heinrich Böll esteve diretamente envolvida em mais de dez atividades — uma verdadeira maratona. Mas essa intensidade abriu uma janela imensa de aprendizados. Foram encontros enriquecedores, atravessados pelo sabor do jambu, do filhote, da tapioca e do açaí. Estreitamos laços com parceiros de toda a América Latina e da Índia, discutimos modelos de cidades, promovemos diálogos entre tecnopolítica e justiça socioambiental e, com perspectiva de gênero, reforçamos as demandas por uma transição justa que respeite os territórios. Destacamos com alegria a parceria com a Mídia Ninja, fundamental para amplificar vozes e narrativas.
Também promovemos debates que conectam inteligência artificial, mineração e clima — temas que, à primeira vista, podem parecer distantes, mas dizem muito sobre o futuro do Brasil e do mundo. Pensar justiça socioambiental hoje exige entender como os avanços tecnológicos impactam populações e ecossistemas — e como podemos construir outras relações entre tecnologia e sociedade, entre humanos, nãao-humanos e a natureza. Às margens do Rio Guamá, na Cúpula dos Povos estivemos com a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos na Tenda Berta Cárceres para afirmar que defender o clima é também defender a terra e água limpas.
O grande desafio do ano foi — e segue sendo — conectar os processos dos territórios às agendas globais, tornando essas experiências visíveis e politicamente relevantes. Sabemos que vocês também trilharam caminhos semelhantes e ficaremos muito felizes em trocar aprendizados no nosso futuro encontro de parceiros, em março de 2026.
Olhando para frente, 2026 se anuncia como um ano complexo. Com eleições para deputado, senador, governador e presidente da República, em um cenário de crescimento da extrema direita em diversos países, assim será novamente essencial pensar e agir em redes globais. Nesse contexto, promovemos no Rio a gravação de um episódio especial do Podcast Tecnopolítica, com Sérgio Amadeu e Marcelo Alves, do Democracia em Xeque. Ao longo de mais de 200 episódios, o podcast se consolidou como um guia crítico e acessível para entender as relações entre poder, tecnologia e política. Nesse episódio, discutimos desinformação, o poder das big techs e as articulações da extrema direita. O conteúdo é um excelente ponto de partida para pensar no que está por vir. Você pode ouvir e assistir no Spotify e no YouTube — e o projeto também virou livro.
Nesse mesmo campo de reflexão, lançamos a publicação “Democracia Sob Pressão: reflexões sobre a extrema direita com as chaves do passado, presente e futuro”, com a participação da Coding Rights, Democracia em Xeque, a jornalista Andrea Dip e o historiador Odilon Caldeira Neto. A publicação é gratuita e pode ser baixada em nosso site.
Felizmente, não estamos sozinhas e sozinhos. Temos uns aos outros. E enfrentar desafios coletivos, quando feito em parceria, também pode ser fonte de alegria e sentido 🙂
Para esse tempo “entre os anos”, desejamos paz, descanso e felicidade. Agradecemos profundamente pelas parcerias, colaborações e caminhos compartilhados ao longo de 2025.
A partir de hoje nossa equipe estará de recesso. Voltaremos no dia 5 de janeiro com energias renovadas.
Com abraços calorosos,
Regine Schönenberg
e equipe da Fundação Heinrich Böll