Violência e crime no cotidiano da política
O conjunto dos dados revela que a violência política no estado do Rio de Janeiro é um fenômeno estruturante das relações de poder, reproduzido em diferentes esferas e períodos, e que segue atingindo de forma desproporcional grupos historicamente marginalizados.
A publicação também analisa o andamento das investigações sobre os assassinatos de atores políticos entre 2015 e 2024 e o modo como o sistema de justiça criminal tem lidado com esses casos. O relatório demonstra que a violência política não é uma exceção no cenário democrático brasileiro, mas uma estratégia recorrente de disputa e manutenção de poder.
Em 2025, o projeto completa cinco anos, consolidando um mapeamento sobre violência política que reúne dados de toda a última década. A nova edição evidencia a permanência desse fenômeno e aponta para a incapacidade do sistema de justiça criminal em reconhecer a natureza política de parte significativa dos crimes registrados.
Principais resultados
Entre janeiro de 2022 e junho de 2025, foram registrados 267 casos de violência política na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e na Baía da Ilha Grande. Os dados indicam que a violência se consolidou como uma prática cotidiana nas disputas de poder.
Nos últimos dois anos — 2023 e 2024 —, o levantamento registrou 180 casos no estado: 86 em 2023 e 94 em 2024.
Um terço dos episódios de violência política (89 casos) teve motivação racista, misógina, transfóbica ou ideológica, o que reforça a presença da extrema direita como um dos vetores desse fenômeno.
O relatório também destaca o papel dos períodos eleitorais como momentos de maior tensão. Somente entre junho e outubro de 2024, ocorreram 71 casos, demonstrando que as disputas locais intensificam a violência política.
Na Baixada Fluminense, a frequência desses episódios triplica durante o período eleitoral: há um caso a cada 22,5 dias, em comparação com 75,6 dias de intervalo entre os crimes fora desse período. Desde 2015, a região concentra 65 assassinatos políticos, o maior número registrado no estado.
Perfil das vítimas e dos agressores
Um terço das vítimas identificadas é composto por pessoas negras, e os ataques quase dobraram entre 2022 (17 casos) e 2024 (30 casos). A violência contra mulheres, cis e trans, também cresceu em 2024, concentrando-se nos meses eleitorais — muitos desses ataques foram cometidos por políticos homens.
Quanto à autoria das agressões, políticos estiveram envolvidos em 59 casos registrados em 2024, incluindo episódios com uso de armas de fogo. Já policiais foram responsáveis por 58 casos, a maioria relacionada à repressão violenta de manifestações políticas.