
Queridas amigas e amigos.
Meu nome é Glaucia Marinho, sou diretora executiva da Justiça Global. Primeiro, gostaria de parabenizar a Fundação Heinrich Böll pelos seus 25 anos de compromisso ético e político com os direitos humanos e os direitos socioambientais no Brasil. Foram anos desafiantes. A Justiça Global conta com a parceria da Fundação por anos a fio. O apoio foi fundamental para que nós pudéssemos incidir para o fortalecimento das instituições democráticas, atuar para a efetivação de espaços de participação social e lutar para a garantia dos direitos humanos em um país reconhecido pela sua violência estrutural contra mulheres, pessoas negras, LGBTs, povos indígenas e comunidades tradicionais. E como a Justiça Global, diversas organizações da sociedade civil estão aqui presentes para celebrar a contribuição determinante que a Boll tem feito para o desenvolvimento de seus trabalhos, e para a defesa dos direitos humanos e da natureza no Brasil.
Com o apoio da Boll, nós, organizações e movimentos sociais, estávamos mais preparados para resistir e lutar. Resistimos aos despejos e remoções forçadas do Rio de Janeiro dos megaeventos esportivos, aos projetos de militarização e controle das favelas e periferias, ao extermínio da juventude negra, ao avanço do crime organizado no campo e na cidade. Resistimos a uma pandemia global. Lutamos contra o avanço predatório sobre os territórios, contra o negacionismo climático, contra a boiada que querem ver passar sobre os nossos direitos. Além disso, temos atuado incansavelmente para a responsabilização dos agentes de Estado envolvidos em violações de direitos humanos, criação de parâmetros e medidas para a mitigação da violência institucional.
Nesse período, a nossa pauta reivindicatória cresceu. Exigimos justiça, memória, reparação e não repetição. As trincheiras também se multiplicaram. Se faz luta política nas ruas, nas favelas, na universidade, no judiciário, no executivo, em todo canto. A contribuição da Boll foi fundamental para fazer luta, encontros, pontes. Ousar sonhar.
O caminho é longo e os desafios ainda são enormes. Após 40 anos do fim da ditadura, o país ainda sofre um processo de instabilidade democrática e crescimento da extrema direita. Apesar dos avanços legais e institucionais, o Brasil ainda enfrenta graves desafios na área dos direitos humanos. Mas, de qualquer forma, ainda não perdemos a capacidade de esperançar. Contamos com a parceria da Fundação Boll para os próximos 25 anos, para que a sociedade civil organizada possa enfrentar a multicrise que aterroriza o nosso futuro. É necessário coragem para lutar por uma vida digna, plena e pelo bem-viver para todas as pessoas.
Parabenizamos a Fundação não apenas pelos 25 anos, mas pelo seu compromisso, disponibilidade, alegria e respeito pelas agendas e história de cada organização e movimento social aqui presente.
A Boll sempre esteve atenta às agendas e análises que brotam das bocas, estômagos e âmagos da sociedade civil. Sempre teve os ouvidos, os olhos e o coração abertos, como diria a poetisa Conceição Evaristo. Saudamos a Fundação e todas as pessoas que contribuíram para que esta importante instituição se mantivesse de pé, firme e sempre atenta às demandas populares.
Nosso muito obrigada a todas e todos que constróem e construíram a Fundação Boll, e seus 25 anos de presença no Brasil. Que venham mais 25 anos de luta, de ousadia e de esperança!
* discurso na Celebração de 25 anos da Fundação Heinrich Böll no Brasil, realizado no Refeitório Gastromotiva, Lapa, 5 de maio de 2025
Assista o vídeo em: https://www.instagram.com/p/DJUn2aTRYOK/?hl=pt-br