Atlas do Plástico
O ano de 2020 ficou marcado pela pandemia de Covid-19. Por causa do vírus, tivemos que repensar atitudes e comportamentos. Do uso de máscara ao isolamento social, o nosso contato com o próximo ficou mais distante e virtual. Contudo, é contraditório pensar que ao mesmo tempo em que o contato com nossos entes queridos diminuiu, mais contato tivemos com plásticos de todos os tipos.
Em cada pedido de delivery, compra em supermercado ou até em máscaras descartáveis e computadores, o plástico está cada vez mais presente em nossas vidas. São diferentes tipos (da garrafa PET ao PVC, de vestidos a embalagens) que se acumulam no ambiente. E muitos desses são plásticos descartáveis, de uso único, que em menos de um mês se tornam resíduos.
Esses resíduos contaminam nossas vidas e o meio ambiente. Só no Brasil, são mais de 11 milhões de toneladas de plástico, o que coloca o país como quarto maior produtor de lixo plástico no mundo. O plástico contamina praias, afetando o turismo e as populações tradicionais, como pescadores e marisqueiras. Vai para oceanos e se transforma em microplásticos, que por sua vez são consumidos por animais, que são capturados e vendidos para consumo humano.
Grande parte do lixo vai parar em aterros sanitários ou é incinerado, gerando mais poluição e contribuindo para o aquecimento global. Os investimentos em reciclagem não são suficientes. Isso faz com que atores como os catadores de materiais recicláveis, por muitos invisibilizados, se tornem linha de frente da guerra contra o plástico e contra a Covid-19, pois são cada vez mais vulneráveis nessa cadeia do descarte instantâneo e contaminado.
E paraSe por um lado muitos consideram o plástico uma benção, pela sua usabilidade e facilidade na vida moderna, ele se torna uma maldição por sua durabilidade pós-uso. E qual é o impacto desse que aumenta vertiginosamente? Para onde este lixo plástico vai e quais são os efeitos para o meio ambiente e para a população?
Alguns grupos e comunidades começam a olhar para alternativas mais sustentáveis. Movimentos, como o Lixo Zero, surgem como contraponto a esse modelo de produção e consumo, incentivando a redução do uso de plástico e estimulando uma maior reciclagem e reutilização desse material.
Todos esses pontos apresentados e outros igualmente relevantes se encontram neste Atlas, produzido pela Fundação Heinrich Böll com o movimento Break Free From Plastic, e adaptado para o Brasil. A partir de diferentes olhares –, que vão desde a produção e sua relação com a indústria petrolífera, passando por temas como vestuário e mudanças climáticas –, o Atlas do Plástico apresenta um raio-x da cadeia do plástico. Apresenta-se como uma útil ferramenta para o debate público sobre como reduzir e evitar este tsunami de plástico que silenciosamente chega em nossos lares, ruas, praias e oceanos. Através dessa leitura, o objetivo é que reflitamos sobre qual é o papel de cada um de nós, cidadãos, governantes, empresas e organizações da sociedade civil nessa luta em defesa de nosso presente e futuro.
A reciclagem é apenas a segunda forma mais eficiente de resolver o problema. A melhor e mais simples é não produzir nem consumir tanto plástico. Mas como começamos essa luta? Que o primeiro passo seja a leitura deste Atlas.
Detalhes da publicação
Índice
02 FICHA TÉCNICA
06 APRESENTAÇÃO
08 INTRODUÇÃO
10 12 BREVES LIÇÕES SOBRE O PLÁSTICO E O PLANETA
12 HISTÓRIA - INOVAÇÃO EM TRÊS LETRAS
Os primeiros plásticos imitavam marfim e seda e atraíam apenas um mercado limitado. As coisas decolaram após a Segunda Guerra Mundial com a ascensão do PVC. Os plásticos baratos rapidamente conquistaram o mundo.
14 CULTURA DO DESCARTÁVEL POR QUE O MUNDO ESTÁ CHAFURDANDO NO LIXO?
Até a década de 1950, as pessoas tratavam o plástico com o mesmo respeito que o vidro ou a seda. Então, as empresas de bens de consumo descobriram as vantagens dos polímeros. Surgiu um estilo de vida que gera quantidades crescentes de lixo.
16 USO - BÊNÇÃO E MALDIÇÃO
Os plásticos se tornaram indispensáveis. Eles são encontrados em sacolas plásticas, smartphones e painéis de carro. Mas quase metade de todos os produtos plásticos acabam como resíduos em menos de um mês. Apenas uma fração é reciclada.
18 BRASIL GIGANTE PELO PRÓPRIO LIXO QUE PRODUZ
O quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, perde 5,7 bilhões de reais ao ano por não arcar com esse problema. O panorama da produção e consumo de plástico no país pode nos informar os passos que temos dado rumo a mais uma tragédia ambiental latino-americana.
20 SAÚDE - QUÍMICA ALIMENTAR
Os efeitos no meio ambiente da produção desenfreada de plástico não podem mais ser ignorados. Suas consequências para a saúde humana – da extração de matérias-primas ao descarte de resíduos – embora pouco conhecidas, são reais.
22 GÊNERO - SUPEREXPOSTAS
As mulheres são mais impactadas pelos plásticos do que os homens. Razões biológicas fazem parte do problema: seus corpos reagem de maneira diferente às toxinas, e os produtos de higiene feminina são frequentemente contaminados. Mas existem alternativas.
24 COMIDA - SABOR PLÁSTICO
A indústria de alimentos é uma grande usuária de plástico. Plástico filme e espumas são usados para proteger os alimentos de danos, mantê-los frescos e torná-los atraentes. Mas a beleza tem um preço: o plástico alcança o campo e entra no nosso sistema alimentar.
26 VESTUÁRIO - DESGASTANDO
À primeira vista, os tecidos feitos de fibras sintéticas têm muitas vantagens. Eles são baratos, secam rapidamente e se moldam ao corpo. Mas eles se tornaram artigos descartáveis e contribuem significativamente para as mudanças climáticas. Além disso, também podem ser prejudiciais à saúde humana.
28 TURISMO - A MARÉ ALTA DE PLÁSTICO E A RESSACA NO TURISMO
Praias ensolaradas, palmeiras balançando... e um tapete de lixo até os joelhos na beira da água. Os turistas vêm em busca de beleza intocada, mas ajudam a destruí-la através de seu descuido e porque os sistemas de resíduos não conseguem dar conta.
30 MUDANÇAS CLIMÁTICAS - VERDE NÃO, E SIM ESTUFA
Às vezes, os plásticos são vistos como ambientalmente mais amigáveis do que outros materiais – principalmente por causa do seu peso leve. Mas o boom deste material está bombeando enormes quantidades de gases de efeito estufa para a atmosfera.
32 ÁGUA - TUDO AO MAR?
A poluição marinha é gerada principalmente por lixo flutuando nos rios, da mesma forma que a poluição atmosférica é alimentada por incêndios e chaminés. Mas o plástico não fica muito tempo no mar aberto. Ele se move em águas rasas, afunda no mar ou é levado até a costa.
34 CORPORAÇÕES - CULPANDO O CONSUMIDOR
Mestres em lobby, empresas petroquímicas e produtores de plásticos concentram a atenção na gestão e reciclagem de resíduos, a fim de evitar a responsabilização pelo verdadeiro problema: o crescimento no volume de plásticos produzidos.
36 ABUNDÂNCIA - O FILHOTE DO COMÉRCIO GLOBAL
O crescimento econômico global desde a Segunda Guerra Mundial não teria sido possível sem o plástico. O plástico é, ao mesmo tempo, resultado da globalização e um combustível que a alimenta. E as compras online estão causando uma acumulação ainda maior de lixo.
38 “BIOPLÁSTICOS” - SUBSTITUIR O PETRÓLEO POR MILHO NÃO É A SOLUÇÃO
Existe uma suposição de que os plásticos feitos de matérias-primas renováveis são ecologicamente corretos. Eles se degradam mais rapidamente – pelo menos de acordo com seus patrocinadores corporativos. Porém, um exame mais atento aponta para geração de um novo conjunto de problemas.
40 CONSUMO - A ONDA de BIODEGRADAVEIS NO BRASIL
Ainda incipientes no país, as legislações sobre proibição do uso de materiais plásticos como sacolas e canudos estão longe de resolver o problema. E não despertam um debate profundo sobre resíduos sólidos e o combate efetivo ao desperdício no uso de plásticos.
42 GESTÃO DE RESÍDUOS - NÃO PODEMOS RECICLAR SOLUÇÕES DIANTE DA CRISE PLÁSTICA
É um equívoco generalizado pensar que, ao separar nossos resíduos em tipos diferentes, não precisamos alterar nossos padrões de consumo. Mas a realidade é diferente: uma grande proporção de resíduos plásticos não é reciclada. Em grande parte, é incinerada ou acaba no meio ambiente.
44 EXPORTAÇÃO DE RESÍDUOS - O DEPÓSITO DE LIXO FECHOU
O que fazer com suas garrafas e sacos de plástico indesejados? Simples: envie-os para outro lugar. Até recentemente, grande parte dos resíduos de difícil reciclagem do mundo desenvolvido era embarcada para a China. Isso não é mais uma opção.
46 NA LINHA DE FRENTE DA RECICLAGEM - LUTAR, CRIAR, RECICLAGEM POPULAR
Não é exagero dizer que os catadores são verdadeiros alquimistas ao ressignificar a função dos resíduos sólidos, que até então eram tratados como “lixo”. Para os catadores, o “lixo” não existe. Ao inventar uma profissão, a categoria mostra que seu papel social é complementar àeconomia e se inserem em um contexto de necessidade da transição do modelo produtivo.
48 REGULAÇÃO - SOLUÇÕES QUE NÃO RESOLVEM
Não faltam acordos e iniciativas para gerenciar a crise do plástico. Mas quase todos tratam apenas do descarte de resíduos; eles não são coordenados entre si e absolvem os fabricantes de suas responsabilidades.
50 SOCIEDADE CIVIL - COMO O MOVIMENTO PLÁSTICO ZERO EXPÕE OS GIGANTES
O movimento da sociedade civil global Break Free From Plastic está trabalhando para acabar com a poluição plástica. Através da exposição pública e demanda de transparência para pressionar as empresas.
52 DO MICRO AO MACRO - MOVIMENTO MENOS 1 LIXO: UM EXEMPLO BRASILEIRO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL
O Menos um Lixo começou com um anseio pessoal e virou um movimento que cresceu exponencialmente. Em seis meses, o canal recebeu mais de 17 mil novos inscritos e mais de 2 milhões de “plays” nos vídeos. Foi um grande passo e a certeza de que estavam no caminho certo.
54 LIXO ZERO - UM CAMINHO HOLÍSTICO PARA UM PROBLEMA COMPLEXO
O lixo é considerado feio, sujo, algo que precisa ser levado para longe, mas este “distante” tem grandes chances de ser os rios, os oceanos e até a incineração. Assim segue-se o ciclo de contaminação das águas, dos peixes, mudanças climáticas e diminuição da biodiversidade. O que os exemplos de Florianópolis e Noronha nos ensinam.
56 COVID-19 E PLÁSTICO - TSUNAMI PLÁSTICO
Com a pandemia, o consumo de plástico descartáveis e de materiais hospitalares disparou. São máscaras, luvas e embalagens plásticas que inundam nossas casas, ruas, praças e praias. Sem uma combinação de esforços coletivos para reduzir o impacto desse tsunami plástico, podemos entrar na terceira década do século 21 em um mar de problemas.
58 AUTORES, FONTES DE DADOS E GRÁFICOS
62 SOBRE NÓS