Uma vida política ativa - o compromisso da Elizabeth

História

Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro,  é onde Elizabeth Gomes cresceu - e como ela ama sua cidade, quer que se transforme num lugar com mais igualdade, seguro e fraterno. A Fundação Heinrich Böll se encontrou com Elizabeth durante a produção da websérie “Pense no seu voto”. Em vídeos e artigos apresentamos as histórias de seis jovens que têm visões críticas do mundo e são comprometidos com mudanças em suas localidades - cada um de seu jeito. Toda semana vamos apresentar uma dessas pessoas inspiradoras. 

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jovem Elizabeth Gomes de Nova Iguaçu
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Elizabeth Gomes é de Nova Iguaçu na Baixada Fluminense.

Política acontece em Brasília, lá no Planalto, entre homens com ternos e “Dr” na frente do sobrenome. Para a maioria das pessoas, mesmo os lugares políticos mais próximos, as câmaras, assembleias e prefeituras, ficam distantes, com procedimentos tão complexos que chegam a ser incompreensíveis.

Mas não precisaria ser assim. Para Elizabeth Gomes, o lugar mais querido para debater política é um boteco chamado “Dinossauro”, com paredes pintadas de cor laranja no segundo andar e cadeiras dobráveis de madeira. É lá que ela encontra pessoas da cena cultural de Nova Iguaçu, mas também gente de outros contextos, com pontos de vista diferentes dos dela. É lá onde pode mudar de ideia, ou sair de sua bolha. Porque isso também é fazer e pensar política.

Pense no seu voto! Eleições 2018 - Elizabeth Gomes - Fundação Heinrich Böll Brasil

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Cultura que se faz na rua

Os anos de trabalho na secretaria de cultura de Nova Iguaçu contribuiu para que a fala de Elizabeth Gomes ficasse mais madura e suas convicções mais firmes, de tal maneira que parece mais adulta do que os 24 anos que tem de fato. Elisabeth é poeta, produtora cultural e coordenadora do Movimento Negro Unificado em Nova Iguaçu. “A minha caminhada política começou de surpresa”, conta ela, quem sempre esteve ligada à cultura e à arte. Não àquela das galerias ou dos teatros exclusivos, mas sim a cultura que se faz na rua: rodas de rima e batalhas de poesia, entre outros. De 2013 a julho deste ano, Elizabeth trabalhou na secretaria municipal de cultura de Nova Iguaçu, na qual planejava exposições de artes plásticas e cuidava da organização de eventos. Foi neste meio que começou a se envolver politicamente para defender os interesses da juventude da sua cidade. Incentivou a fundação de uma coordenadoria municipal de juventude, que foi institucionalizada em setembro de 2017. Nessa coordenadoria, Elizabeth encontrou um espaço para desenvolver ações que tenham um impacto de longo prazo para os jovens da sua cidade.

Nova Iguaçu - cidade jóvem

Nova Iguaçu tem uma população de 798.600 pessoas das quais 400.000 são jovens, de acordo com um levantamento da própria prefeitura. Cerca de quarenta por cento da população não ganha mais que meio salário mínimo por mês (segundo dados do IBGE 2010). Além disso, a Baixada Fluminense é uma região marcada pela violência - 46 % dos homicídios do estado acontecem lá (Agência Pública, 2017). Neste panorama, as oportunidades de conseguir uma educação universitária ou um emprego são escassas para muitos adolescentes. Em Nova Iguaçu, um em cada cinco jovens se encontra numa situação de extrema vulnerabilidade social.

As carências da juventude

A partir do momento quando Elizabeth começou a trabalhar para a coordenadoria, ela se perguntou como usar esta instituição para o bem da juventude da cidade. De que precisava a população? Quais eram as carências da juventude? Quando os funcionários municipais fizeram essas perguntas à população das regiões periféricas de Nova Iguaçu, descobriram que as necessidades eram as mesmas nos diversos lugares. “Eram questões de segurança, porque o estado não está presente”, diz Elizabeth. “Outra questão é que é difícil o transporte porque a galera não tem grama de vir do Dom Bosco, pegar uma condução que leva duas horas, para ir ao centro de Nova Iguaçu para ver uma atividade cultural.” Estes dados são o resultado de um levantamento que Elizabeth fez junto com seus colegas da prefeitura.

A cidade de Nova Iguaçú fica perto da Serra de Madureira.

Conversas políticas

Baseado neste levantamento, a prefeitura começou a organizar vans para levar os jovens aos eventos na Casa de Cultura; Abriu-se a cada para os moleques, para que a reconhecessem como um lugar onde passar o tempo livre. Também começaram as rodas de conversa política. Elisabeth chamava os jovens para debaterem assuntos políticos do interesse deles. “A gente pega um texto”, conta ela sobre o procedimento das rodas de conversa, “os jovens escolhem o tema, não sou eu. Dou uma lista para quem é novo e eles botam o que eles quiserem.” Apareceram assuntos diversos, como a legislação do aborto ou as histórias de Harry Potter. Elisabeth ri e diz: “Até Harry Potter deu para politizar.”

Para muitos dos participantes, essas conversas, que aconteciam na Casa de Cultura, mas também ao ar livre, em diversas praças da cidade, eram uma oportunidade para refletir sobre assuntos políticos que os afetam no dia a dia. Também trouxeram o desafio de escutar opiniões diferentes. “Toda opinião é válida e justa”, é uma das principais lições que Elizabeth passou para a galera. “Então, mesmo que não gostem,  eu obrigo eles a dialogarem. Obrigo a ouvir o outro e entender a importância daquilo que fala o outro também.”

Apoiar o diálogo

É justamente esse diálogo que faz falta – não somente na geração nova, que cresce sem a devida formação política, se não na sociedade em si, na opinião de Elizabeth. “É bizarro pensar dessa forma, mas, todo mundo quer um país melhor! E todo mundo quer um país igual. O cara pode votar em quem for, ele quer um país melhor para os filhos dele, ele quer que a filha dele tenha uma boa oportunidade para trabalho, ele quer que a família dele ganha melhor, que viva melhor. Todo mundo quer a mesma coisa.” Só no diálogo, deixando do lado a polarização entre certo e errado, entre esquerda e direita, é possível conseguir um avanço. Esse pensamento levou Elisabeth a organizar e mediar os debates com a juventude.

Elisabeth saiu do cargo em julho, devido a divergências com a direção. Desde então, ela não tem organizado mais rodas de discussão com os jovens. Mas ela vai seguir tendo uma vida politicamente ativa fora da prefeitura. “É muito confortável a gente estar aqui, culpar o estado, o prefeito, culpar o presidente... A gente culpa todo mundo, mas não quer pegar um sábado ou domingo e participar de um fórum e debater política pública. A nossa função como sociedade civil é cobrar o poder público mesmo. Eu tenho que ter uma vida política ativa para poder cobrar os meus governantes em relação às ações deles.”