Roots Ativa: mulheres jovens em destaque na agroecologia urbana

IV encontro Nacional de Agroecologia uniu Campo e Cidade 

Cerca de 2.000 pessoas em sua maioria agricultores, quilombolas, indígenas, com pelo menos 50% de mulheres se reuniram em Belo Horizonte no final de maio para o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA).  Os participantes buscaram dar visibilidade para o modo de vida que é a agroecologia e as lutas que acontecem cotidianamente nos territórios. O Evento também quis reforçar o protagonismo das mulheres e jovens na agroecologia. O encontro também aprofundou as conexões entre cidade e campo, tendo com lema “Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade”. A Fundação Heinrich Böll foi uma das apoiadoras do Encontro e esteve presente
Carol Lopes é integrante do Roots Ativa
Teaser Image Caption
Carol Lopes é integrante do Roots Ativa

Durante a Plenária das Mulheres, realizada no primeiro dia do ENA, Maria Emília Pacheco, do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agreocologia (ANA), articulação responsável pela organização do encontro, disse que as mulheres estavam no ENA para reafirmar que a agroecologia se faz com a construção de valores que signifiquem a emancipação dessas mulheres. A afirmação de Maria Emília pôde ganhar vida com muitas histórias de mulheres de todas as regiões do Brasil que participaram do evento. Uma delas é a Carol Lopes.

Carol Lopes faz parte do Roots Ativa, um dos grupos que estavam presentes na diversidade da Praça de Alimentação do IV ENA, local que reunia os participantes do Encontro que estavam comercializando seus produtos.

O Roots Ativa é um coletivo de jovens urbanos criado em 2006, que passou a contar com uma sede em 2009, localizada na Vila Nossa Senhora de Fátima, no Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais. O grupo pratica a cultura rastafári desenvolvendo várias atividades de preservação ambiental e de agricultura urbana na comunidade. Eles fazem a gestão comunitária dos resíduos, por meio de minhocários e compostagem, além de viveiros de mudas, horta,  permacultura e produção de alimentos saudaveis. A produção e os alimentos beneficiados são comercializados em feiras e por encomendas. Os projetos do grupo são exemplos claros da agroecologia praticada na cidade. Para Carol, fazer parte dessa experiência tem sido transformador:

 

“Eu tenho 23 anos e faço parte do grupo há um ano e cinco meses. A maioria do grupo é mais ou menos dessa idade. Hoje somos cinco mulheres e dois homens [na área de trabalho dela]. Duas pessoas moram no local onde trabalhamos e os outros moram próximo.

 Eu conheci o Roots Ativa por um amigo que disse que eu iria adorar um projeto da Serra que realizava atividades com base na cultura Rastafári. A Cultura rastafári busca a alimentação saudável… a saúde do espírito e do corpo. A forma como fazemos os alimentos também é importante.

No Aglomerado não tem muito auxílio do governo, como saneamento. Assim, foi feita a cozinha experimental do projeto pensando nas pessoas. Foi pensado nas mães que poderiam trabalhar próximo aonde moravam para ficar perto dos filhos e não precisariam mais se deslocar. Esta cozinha experimental ajudou muito o coletivo e desde que eu entrei, ganhei muitos conhecimentos novos. Na cozinha a gente faz bombom, paçoca, hamburguês, suco natural e torta de banana.

Sobre o que eu aprendi, o primeiro [aprendizado] acho que foi para o individual… Eu aprendi mais a conviver e saber respeitar… saber os limites…  E tem os conhecimentos técnicos. Aprendi como organizar uma feira, conversar com as pessoas envolvidas.   

Tudo isso para a gente é muito bom, porque para o conhecimento entrar em uma favela é muito difícil.

Eu acho que eu não tenho muitos conhecimentos sobre os significados da palavra agroecologia, mas eu acho que eu pratico agroecologia. Além das nossas atividades, nós separamos o lixo, cuidamos dos resíduos. Lá você não chega e te dizem: ‘- Hoje você vai aprender isso’. Você aprende na prática. Acho que é quase uma pedagogia Waldorf [esta pedagogia procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. O objetivo é desenvolver indivíduos livres, integrados, competentes e responsáveis.

Lá no projeto acontece uma descoberta dentro de nós mulheres. Passamos a pensar: eu posso fazer isso, eu sou capaz. Então, eu acho que eu mudei como mulher. Há um ano atrás eu não estaria tendo essa conversa. Eu me sinto à vontade agora de falar. É muito bom!” 

*A primeira versão deste texto foi publicada no site do ENA com a edição de Laudenice Oliveira e Elka Macedo