Em 1995 aconteceu a mais importante conferência das Nações Unidas sobre a Mulher, em Beijing na China, 20 anos depois algumas conquistas são comemoradas, mas grandes desafios ainda precisam ser vencidos. Neste contexto a Fundação Heinrich Böll convidou quatro mulheres especialistas no tema e de diferentes gerações para que refletissem sobre os avanços na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. O resultado é o vídeo: Beijing+20 - Desafios e conquistas das mulheres no Brasil.
Beijing+20 - Desafios e conquistas das mulheres no Brasil - Fundação Heinrich Böll Brasil
Watch on YouTubeSegundo Ana Gualberto, assessora de programas de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, o principal desafio para quem trabalha com garantia dos direitos com foco nas mulheres negras, é a ampliação do acesso à informação. Ana afirma isso baseada em mais de 10 anos de experiência com comunidades quilombolas e negras rurais, retratado no vídeo com imagens de uma Feira agroecológica de enfrentamento da violência para mulheres negras e quilombolas, realizada na região do Baixo Sul da Bahia.
Para Miriam Nobre, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e da Sempreviva Organização Feminista (SOF), o feminismo hoje no Brasil vem se modificando, incorporando mulheres jovens numa riqueza de experiências e perfis diferentes, mas alerta: “já não é mais uma questão de como eu vou aceder aquele feminismo que já está pronto, e sim como eu construo o feminismo na prática, que parte da minha experiência, mas que se radicaliza no diálogo com outras experiências”. A diversidade também é um ponto importante, mas não é "como se colocássemos uma do ladinho da outra, como se fosse uma colcha de retalhos, é uma diversidade que se soma como uma comida antropofágica brasileira de recriar a partir de nossa experiência um horizonte comum.”
Graciela Rodrigues do Instituto Eqüit esteve na Conferência em Beijing em 1995 e continua trabalhando pela garantia de direitos das mulheres. Ela afirma que a pauta dos anos 1990 avançou bastante como, por exemplo, em relação a dar visibilidade para a questão da violência contra a mulher e a criação da Lei Maria da Penha que endureceu as punições para os agressores. Mas Graciela alerta para os perigos de retrocesso que vem ganhando força com os setores conservadores, como a bancada religiosa no Congresso.
A advogada e assessora de políticas para a América Latina do IPAS Beatriz Galli concorda com Graciela e ainda destaca que o Brasil está em débito em relação ao compromisso que assumiu em Beijing de revisão da legislação restritiva ao aborto. Para ela, há uma política de “enxugar gelo” no que diz respeito ao aumento da repressão às clínicas clandestinas e às mulheres que fazem aborto. Um dos resultados desse endurecimento da fiscalização é que cada vez mais as mulheres recorrem a métodos mais inseguros para realizar o aborto. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, um milhão de abortos são realizados por ano e a cada dois dias uma brasileira morre por aborto inseguro.
Além de alertar para os riscos de retrocessos de direitos e registrar os grandes desafios que existem nos caminhos para a equidade de gênero no Brasil, o vídeo também busca inspirar, porque mostra que as mudanças são possíveis: “Me motiva pensar que somos nós que construímos essa sociedade e eu, enquanto sujeito social, tenho poder de intervenção e se eu tenho o poder de intervenção, imagina uma comunidade toda. Imagina se a gente se organiza e se articula em um movimento de mudança, a gente pode fazer tudo, a gente pode desconstruir este mundo e fazer um novo,” diz Ana Gualberto.
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O vídeo faz parte do Dossiê Beijing+20, organizado pelo Instituto Gunda Werner, o instituto feminista da Fundação Heirinch Böll, que inclui também artigos sobre a situação das mulheres de várias regiões do mundo. A publicação está disponível em inglês e alemão e as contribuições brasileiras encontram-se aqui no site da Fundação no Brasil.
O vídeo Beijing+20 - Desafios e conquistas das mulheres no Brasil foi produzido pela Sumauma Vídeos.