Este ensaio faz parte de uma reflexão sobre o processo histórico de transição no Triângulo Norte, uma vez que, desde os anos 1980, a democracia como contrapartida ao autoritarismo mantém a "herança" do passado colonial oligárquico autoritário e pode-se observar tanto pelos atores de poder como nas relações entre eles. Ou seja, os atores de poder e as relações de poder compõem o ambiente factual que influenciou o desenvolvimento histórico das democracias. Sem dúvida, essas redes (atores e relacionamentos) também operaram nas sombras. Portanto, o problema central está nesse poder e em suas relações, que moldaram "democracias realmente existentes". Como esse poder moldou as democracias no Triângulo Norte (e vice-versa)?
Entende-se - nesse contexto - a democracia do ponto de vista de um sistema político, que "canaliza" as relações caóticas de poder da sociedade (econômica, social) e tende - teoricamente - a gerar "ordem" em sociedades complexas. Isso se cruza - em termos teóricos e metódicos - com a análise de redes sociais, portanto, analisa-se padrões e estruturas subjacentes a um complexo tecido relacional entre atores. Dessa forma, a intersecção teórica e metodológica facilita a análise das áreas cinzas que ocorrem no sistema democrático e também nas inter-relações entre os atores de poder.
As áreas cinzas são então definidas como inter-relações complexas de atores de poder que distorcem os resultados (ideais) das sociedades, (re) produzindo assimetrias, desigualdades e exclusões nos sistemas sociais. As áreas cinzas são um campo problemático cuja complexidade pode ser descrita em um conjunto de dicotomias (indevidas): público-privado, legal-ilegal, formal-informal, legítimo-ilegítimo, corrupto transparente, etc. A capacidade de operar no "cinza" depende - em grande parte - da posição do ator (no sistema) e de seus relacionamentos (a partir da análise de rede).
O ensaio baseia-se na pesquisa e nas contribuições teórico-metódicas de Harald Waxenecker, na reflexão sobre os sistemas políticos de Otto Argueta e nas investigações sobre a vulnerabilidade das democracias de Marco Pérez Navarrete.