Acontece em 27 de março, no Odeon, Rio de Janeiro, a pré estreia do documentário "Nossos Mortos Têm Voz," 13 anos após a maior chacina da Baixada Fluminense. No dia 31 de março de 2005, policiais do Estado do Rio de Janeiro assassinaram 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados. O documentário traz à tona o depoimento de mães e familiares de vítimas da violência do Estado na Baixada Fluminense com as histórias atravessadas por essas perdas. O filme conta com o apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil, Misereor, Casa Fluminense, Fundo Brasil de Direitos Humanos e a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.
Marcada para dia 27 de março, no Odeon, centro do Rio de Janeiro, a pré estreia do documentário "Nossos Mortos Têm Voz" acontece no mês em que completam 13 anos da maior chacina da Baixada Fluminense. No dia 31 de março de 2005 policiais do Estado do Rio de Janeiro assassinaram 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados. O documentário traz à tona o depoimento de mães e familiares de vítimas da violência do Estado na Baixada Fluminense com as histórias atravessadas por essas perdas. A produção resgata a memória das vidas interrompidas com uma visão crítica sobre a atuação do Estado através das polícias na região, aborda a atuação dos grupos de extermínio a partir da década de 50 e das milícias mais recentemente, sobretudo, no que diz respeito à violência de agentes de Estado contra jovens negros.
"O trabalho busca traduzir para a linguagem cinematográfica o grito das mães e familiares vítimas da violência de Estado na Baixada Fluminense, que lutam pela memória e justiça dos seus filhos e familiares. Queremos provocar inquietação nos agentes do Estado e nas suas instituições, mas sobretudo desejamos que o filme potencialize todo o empenho e militância das mães e familiares massacrados pelo Estado. ''Nossos Mortos têm Voz'' é um grito que expressa a dor das mães ao mesmo tempo em que as coloca como protagonistas na luta pelo direito à vida nas favelas e periferias do Brasil", contam os diretores Fernando Sousa e Gabriel Barbosa.
O projeto foi concebido e realizado em 2017 a partir da parceria entre a Quiprocó Filmes, o Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, o Fórum Grita Baixada e a Misereor. Ao longo de sete meses, do processo de pré produção até a finalização, a equipe reuniu pessoas que foram direta e indiretamente afetadas por essas violências. Para Fernando, uma das etapas mais difíceis durante as filmagens era a captação dos depoimentos. Segundo o diretor, é quase impossível não se comover com a fala das mães. ''É um tipo de coisa que não muda só o teu dia, muda a tua vida. É muito duro estar ali e sentir o sofrimento daquelas mulheres, a dor daqueles parentes, que estão ali dividindo suas histórias e expondo suas feridas mais profundas enquanto o que se percebe é a total ausência de medidas de reparação pra essas famílias por parte do poder público''.
De acordo com a coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, a realização do filme tem por finalidade dar visibilidade e denunciar publicamente a realidade de violência e violações de direitos que a população da Baixada enfrenta cotidianamente, e a omissão do Estado nesta Região: “Com o filme, temos esperança que esse grito ecoe em todo o Estado do Rio, em todo o Brasil e chegue até as instâncias internacionais, de forma a pressionar o Estado brasileiro pelas atrocidades aqui vividas”, afirma Yolanda Florentino.
Adriano de Araujo, coordenador executivo do Fórum Grita Baixada, defende que ''Nossos Mortos têm Voz'', ao jogar luz sobre a histórias de vida de mães e familiares, contribui para o surgimento de narrativas potentes e instigantes sobre lutos e lutas dessas mães da Baixada Fluminense. “Esperamos que o filme possibilite uma reflexão sobre essas vidas, tanto das que foram, quanto das que ficaram e as que virão”, concluiu.
A exibição acontece às 18h30 e em seguida um debate com a presença dos diretores, representantes do Fórum Grita Baixada, do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu e mães e familiares protagonistas do filme.
Trilogia da memória
O documentário "Nossos Mortos Têm Voz" é o segundo filme da "Trilogia da Memória" da Quiprocó Filmes, da qual fazem parte os documentários "Nossos Sagrado" e "Entroncamentos". Enquanto dimensão incontornável da nossa humanidade, a memória não só nos define como também constrói nossa experiência social. As produções mostram a luta contra o esquecimento e a luta contra a morte, o fenecimento. Na "Trilogia da Memória", ela aparece como um instrumento de resistência contra o Estado que, de forma violenta, insiste em apagar as memórias de pessoas e lugares. Recontar a história a partir da narrativa não oficial é o passo fundamental para a transformação do presente e do futuro. A narrativa da memória é o caminho através do qual buscamos continuar contando (para nós mesmos) quem somos.
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