A Justiça Global elaborou o mapa interativo “Onde a Polícia Mata”, com dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP), que mostra os assassinatos cometidos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e registrados como autos de resistência.
Lançado na semana em que cinco jovens foram mortos por policiais militares na comunidade de Costa Barros, subúrbio do Rio, quando voltavam, de carro, do Parque Madureira, o mapa revela que o número de mortes ocorridas nos bairros pobres e periféricos do Estado é bem maior do que em bairros mais centrais, evidenciando a desigualdade da atuação policial em diferentes áreas da cidade.
“Onde a Polícia Mata” reúne dados de 2010-2015 e mostra a distribuição dos autos de resistência de acordo com a soma dos registros neste período.
No site é possível ver o território do Estado do Rio de Janeiro dividido de acordo com as áreas de atuação de um batalhão da Polícia Militar, também chamadas de Áreas Integradas de Segurança Pública (AISPs). É importante perceber como as AISPs que abrangem a Zona Sul tiveram um total de mortes de até oito vezes menor do que em regiões como a de Costa Barros e Irajá, por exemplo.
A coordenadora da área de Violência Institucional e Segurança Pública da Justiça Global, Isabel Lima afirmou em entrevista para o G1 ,que o caso de Costa Barros não é um ato isolado. Segundo ela, o objetivo do mapa é justamente dar visibilidade a desigualdade da ação policial nos diferentes territórios. Ela refuta a hipótese de que os locais mais pobres são palco de mais mortes por ter mais conflitos. Para ela, o que muda é, principalmente, a atuação policial. "A gente sabe que a polícia mata, mas é preciso que se diga onde: e são nos territórios pobres e periféricos. São territórios onde o Estado se faz presente com o braço armado e onde estão mais ausentes as garantias de políticas públicas. São áreas abandonadas, de menor interesse econômico e turístico, onde o discurso de enfrentamento e de guerra às drogas é autorizado, a sociedade não se contrapõe. Lá, os direitos são relativizados. De uma maneira geral, a sociedade não se importa com aquelas vidas, como se fossem descartáveis", opina.
Para Lima, os autos de resistência podem mascarar execuções sumárias. "É importante chamar atenção para como isto [auto de resistência] é tratado não só pela polícia, mas por outros atores da Justiça criminal, como o Ministério Público. É a lógica da segurança pública em uma base de política de guerra. É isto que precisa mudar", conclui.
O site foi desenvolvido por Adriano Belisário com colaboração de Cinco Euzébio, e conta com o apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil.
Para acessar o mapa interativo: www.ondeapoliciamata.org