Entrevista com o biólogo Arnaud Apoteker, assessor político do Partido Verde no Parlamento Europeu, por Luisa Colisimone | tradução AS-PTA.
A publicação do estudo de Séralini, o primeiro a avaliar os efeitos de longo prazo dos transgênicos em animais, foi seguida de semanas de intensa discussão sobre este tema central para as políticas europeias. Os transgênicos tocam de fato na essência da vida humana: o que comemos e como isso nos afeta.
Os transgênicos não têm nada a ver com outras técnicas convencionais empregadas na agricultura, como a fecundação cruzada. Se não é nem natural nem algo que o agricultor pode fazer, então é um transgênico.
A controvérsia em torno dos transgênicos não é nova na cena política. O que torna esse novo estudo diferente de resultados anteriores é que ele é uma análise de efeitos no longo prazo, que avalia um cereal específico, o milho da Monsanto, liberado anteriormente pela Agência Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA).
Tudo bem então? Não tão bem como possa parecer. A EFSA, que este ano comemora seu décimo aniversário em meio a uma polêmica sobre conflito de interesses e sobre sua independência, nunca publicou suas fontes, tendo baseado-se exclusivamente em dados da indústria. E jamais recusaram um pedido de liberação de transgênicos.
Já aconteceu de a EFSA solicitar maiores informações sobre um pedido de liberação, mas suas diretrizes não são boas. A liberação de um organismo transgênico não pode se basear exclusivamente em dados da indústria. O estudo de Séralini no mínimo traz à tona uma evidência há muito ignorada: são necessárias avaliações de longo prazo antes de um produto transgênico ser liberado para consumo humano e animal. Isso os Verdes na Europa sempre disseram.
Os estudos atuais são no máxino de 90 dias, quando não mais curtos ou mesmo omitidos. Avaliações de longa duração são mais caras e demandam um número maior de amostras, entretando, os problemas só aparecem após o quarto mês de monitoramento.
Os que criticam o estudo de Séralini centram-se no fato de ele ser não-conclusivo, mas se não se pode concluir a respeito da toxicidade do milho, como o estudo faz, também não se pode excluir a hipótese.
O Conselho alemão e outras autoridades nacionais científicas anunciaram que o estudo não é suficiente para mudar suas opiniões sobre os transgênicos. Mas seu maior resultado é que agora a França exige estudos de longo prazo.
O estudo não necessariamente questiona o milho, mas ressalta falhas dos processos de liberação dos transgênicos em geral. E nesse sentido ele é um sucesso.
O Conselho de Meio Ambiente da União Europeia já pedira em 2008 tais estudos de longo prazo, mas a Comissão fez muito pouco desde então – a EFSA produziu novas diretrizes que ainda devem ser enviadas pela Comissão ao Parlamento Europeu para debate. Essas novas diretrizes contudo não representam um avanço significativo, uma vez que os responsáveis por sua elaboração ainda são ligados à indústria.
Seis academias francesas de ciência rejeitaram o estudo de Séralini, mas essas instituições agem como um “bússula apontando para o sul”, também já endossaram o amianto e outros materiais perigosos.
Isso tudo deixa no ar uma questão para esse debate que está longe de se encerrar: por que uma resposta tão urgente e desproporcional a um único estudo, e por que uma reação tão rápida e coordenada?
Fonte do texto: AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia
Fonte da imagem: http://www.flickr.com/photos/jovengandalf/2282366761/sizes/m/in/photostream/