O efeito Marina Silva

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Uma ‘inspiração para o povo brasileiro” é como está sendo chamada a candidatura à Presidência da ainda não-candidata Marina Silva por muitos jornais internacionais. A definição acima é do New York Times, que a classifica também como “uma mulher humilde que superou a pobreza extrema e a doença para se tornar uma das maiores forças da política brasileira”. Poderia ser a substituta de Lula no idealismo de alguns, segundo jornais como The Guardian e Independent, por representar, entre outras coisas, a ética, valor tão desgastado na política brasileira.

Exageros à parte, fato é que a senadora, ícone do ambientalismo nacional, vem mobilizando e comovendo uma significativa parcela da sociedade, e sua possível candidatura já conta com adeptos e promotores que utilizam a Internet como principal canal para iniciar uma pré-campanha eleitoral, ainda que alheia à vontade da própria ex-ministra.

Uma rápida pesquisa no Google revela, pelo menos, quatro twitters (rede social e servidor de microblogging que virou a mais recente febre da Internet), com os nomes de “Marina Silva News”,  “Vote Marina Silva”, “A cara do Brasil” e “Marina Verde” criados especificamente para divulgar sua candidatura. Dentro do Facebook, outro site de relacionamento pessoal, há pelo menos quatro grupos de discussão sobre a candidata Marina. Durante sua recente entrevista no programa Roda Viva, havia três jornalistas de plantão no estúdio, postando as declarações mais interessantes da senadora em seus respectivos twitters.

Existe ainda o chamado site oficial “Marina Silva Presidente”, criado em 2008 por um grupo que se auto-intitula suprapartidário e que ganhou forças, obviamente, depois da filiação de Marina ao PV, e que conta hoje, segundo dados da própria página, com cerca de 9,5 mil integrantes. O site é organizado e atualizado com uma frequência que impressiona. Ali pode-se encontrar desde notícias e vídeos com aparições da senadora, até um blog e grupos e fóruns de discussão de todas as regiões do país com títulos como “evangélicos pró-Marina” e “católicos que apoiam Marina”.

Aqui cabe um pequeno parênteses para o que muitos apontam como sendo um dos pontos fracos de sua candidatura, a questão religiosa. Evangélica, a senadora já causou polêmica ao defender o estudo da teoria criacionista nas escolas públicas e também ao se colocar contra a legalização do aborto. Em recentes entrevistas, no entanto, ela tem defendido a realização de um plebiscito sobre o aborto e negado que trata-se, para ela, apenas de uma questão de cunho moral. Com relação ao criacionismo, desmentiu a ideia de torná-lo parte do currículo dos estudantes públicos. "Nunca defendi o criacionismo e no Brasil não existe ninguém fazendo esse movimento. Não tenho uma teoria sobre o criacionismo. Apenas acredito em Deus e que Deus fez todas as coisas”, afirmou durante o Programa Roda Viva.

Deixando a polêmica de lado, fato é que uma candidata não-oficial à Presidência da República tem sido capaz de abalar as estruturas do PT ao deixar o partido depois de 30 anos de militância, criando um jogo político imprevisível e não mais bipolarizado, como desenhado ate então. É verdade que o PT sempre foi mais fraco que seu líder carismático Lula, mas a saída da sua segunda maior personalidade, coloca o partido numa situação muito difícil: a de definir o que ele ainda representa.

A candidatura de Marina também anima pela mobilização de novos atores, como ONGs, movimentos sociais, ambientalistas, etc, e pela elevação do debate político, num momento em que vivenciamos a crise no Senado, com denúncias quase diárias de corrupção _e com o PT exigindo de seus senadores o apoio ao presidente da Casa, José Sarney. Além disso, Marina candidata significa alçar o meio ambiente a uma posição de destaque, não só na sua própria proposta de governo, mas nas agendas e debates com os outros candidatos. Como ela mesma diz, é chegada a hora de criarmos uma equação diferente sobre economia e ecologia, que resulte em desenvolvimento sustentável.

Apesar das críticas que sofreu durante seu mandato como ministra do Meio Ambiente, principalmente no caso das usinas do Rio Madeira, a senadora enumera algumas de suas marcas positivas durante o período em que comandou a autarquia, como o combate ao desmatamento e a criação de reservas indígenas. E lembra que, no caso do Madeira, não fosse a interferência do ministério, teríamos um lago oito vezes maior do que o aprovado. Não à toa, Marina constava da lista, elaborada pelo The Guardian, das 50 pessoas capazes de salvar o planeta, em 2008 (disponível em http://www.guardian.co.uk/environment/2008/jan/05/activists.ethicalliving).

Marina saiu do PT, mas não virou as costas para o governo. Em entrevista, ela defendeu a continuação da política econômica de estabilização da moeda e elogiou o Bolsa Família. Mas, avisou que continua com posições firmes, reafirmando ser contrária a energia nuclear e defendendo que o próximo governo deveria colocar o investimento em desenvolvimento sustentável como prioridade.

Enquanto isso, o PV segue trabalhando na elaboração de seu novo programa, com anúncio previsto para ser o início de 2010. O objetivo é alcançar uma identidade em prol do desenvolvimento sustentável. No entanto, Marina diz que o partido ainda tem arestas a aparar antes que ela possa assinar embaixo.