Greenpeace: Catástrofe de Chernobyl - As conseqüências para a saúde humana - Publicações

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Sumário Executivo

Greenpeace

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O 20º aniversário do desastre de Chernobyl, em 2006, é amplamente marcado por uma necessidade crítica de estudo continuado das conseqüências expressivas desse sério acidente. Há vinte anos, o termo “átomo pacífico” desapareceu na nuvem negra sobre o reator nuclear número 4 – em chamas – da usina de energia nuclear Chernobyl, na antiga União Soviética. A mais significativa e abrangente catástrofe tecnológica na história da humanidade ocorreu em uma pequena cidade ucraniana às margens do rio Pripyat.


Da noite para o dia, o nome de Chernobyl tornou-se conhecido em todo o mundo. Vinte anos depois, diversos milhões de pessoas (por várias estimativas, entre 5 e 8 milhões) ainda residem em áreas que continuarão altamente contaminadas pela poluição radioativa de Chernobyl, por muitos anos ainda. Como a meia-vida do elemento radioativo mais liberado (embora longe de ter sido o único) , Césio-137 (137Cs) , é um pouco mais de 30 anos, as conseqüências radiológicas (e, portanto, de saúde) desse acidente nuclear continuarão a ser sentidas nos próximos séculos.


Este evento verdadeiramente global teve seus maiores impactos nas três antigas repúblicas soviéticas vizinhas – hoje países independentes da Ucrânia, Bielorússia e Rússia. Os impactos, contudo, se expandiram de forma muito mais ampla. Mais de metade do Césio-137 emitido como resultado da explosão foi carregado, pela atmosfera, a outros países europeus. Pelo menos 14 outros países na Europa (Áustria, Suécia, Finlândia, Noruega, Eslovênia, Polônia, Romênia, Hungria, Suíça, República Tcheca, Itália, Bulgária, República da Moldova e Grécia) foram contaminados por níveis de radiação acima de 1 Ci/m2 (or 37 kBq/m2) – limite usado para definir áreas como “contaminadas”. Em menores níveis, mas não em quantidades radioativas substanciais desprezíveis – ligadas ao acidente de Chernobyl – foram detectadas contaminações em todo o continente europeu, da Escandinávia ao Mediterrâneo, e na Ásia.



Apesar da seriedade e extensão geográfica documentada da contaminação causada pelo acidente, a totalidade de impactos em ecossistemas, saúde humana, desempenho econômico e estruturas sociais continua

desconhecida. Em todos os casos, contudo, impactos assim tendem a ser extensos e duradouros. Juntando contribuições de numerosos cientistas, pesquisadores e profissionais da saúde, incluindo muitos da Ucrânia, Bielorússia e Rússia, esse relatório trata de um desses aspectos, especialmente a natureza e o escopo das conseqüências para a saúde humana, a longo prazo.


O alcance de estimativas do aumento de mortalidade resultante do acidente de Chernobyl transpõe uma escala extremamente larga, dependendo precisamente do que é levado em consideração. Exemplos dessas

estimativas são reproduzidos na tabela abaixo. A mais recente evidência epidemiológica – publicada com o aval da Academia Russa de Ciências – sugere que a escala dos problemas poderia ser muito maior do que prevista por estudos publicados até essa data. Por exemplo, o relatório de 2005 da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) predisse que 4 mil mortes adicionais resultariam do acidente de Chernobyl. As mais recentes estatísticas publicadas indicam que, só na Bielorússia, Rússia e Ucrânia, o acidente resultou em cerca de 200 mil mortes adicionais – entre os anos de 1990 e 2004. No somatório, os dados disponíveis reproduzidos na tabela abaixo revelam um alcance considerável em estimativa de mortalidade adicional (resultante do acidente de Chernobyl), servindo para destacar as imensas incertezas ligadas ao conhecimento de todos os impactos do desastre.


Este relatório inclui alguns dados que não foram publicados antes na arena internacional. Em combinação com a extensa bibliografia – que foi publicada até a data –, esses dados indicam que as estimativas oficiais (como por exemplo, a avaliação de 2005 da AIEA) para morbidade (incidência de doenças) e aumento de mortalidade como resultado direto da contaminação radioativa liberada de Chernobyl podem, grosseiramente, subestimar o impacto tanto local quanto internacional do acidente.