No último fim de semana, foram realizadas na Europa eleições para o Parlamento Europeu, bem como eleições locais em alguns países, como a Alemanha. Respeitando as tradições de eleições e a soberania de cada um dos 27 países membros, o prazo para a realização dos votos foi de 6 a 9 de junho. Não se deve esquecer que a governança de um bloco de países do tamanho da União Europeia é cara, complexa e grandiosa. O número muda a cada período de mandatos, mas, para se ter uma ideia, este ano foram 720 cadeiras disponíveis a serem ocupadas no Parlamento Europeu.
Como já adiantado por analistas e cientistas políticos, as alianças eleitorais e partidos de direita saíram na frente. Os partidos verdes perderam uma quantidade considerável de votos. Houve apenas uma região do continente onde as alianças de esquerda varreram a extrema direita para bem longe: nos países nórdicos. Na Dinamarca e na Suécia, partidos que descendem de movimentos comunistas ganharam espaço inexistente nas últimas eleições europeias em 2019. Na Finlândia, os ecossocialistas conquistaram três das 15 cadeiras no Parlamento Europeu.
Fora da utopia gelada das terras do Norte, os jovens europeus parecem estar desapontados e muito mais à direita. Muitos parecem não ter medo do extremismo de direita que afundou seus antepassados em genocídios e guerras no último século. Este ano, em alguns países, a idade de voto foi reduzida para 16 anos. Com isso, 2 milhões de menores de idade na Bélgica, Alemanha, Áustria, Grécia e Malta puderam participar, pela primeira vez, do pleito.
Por outro lado, na Alemanha, os Verdes viram seu número de assentos ser reduzido pela metade. Além disso, a coalizão de centro-esquerda do chanceler Olaf Scholz perdeu para a oposição conservadora, mantendo o bloco conservador da CDU como o partido mais forte em Bruxelas. A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita, também obteve ganhos notáveis, ficando em segundo lugar na soma dos votos. A maior economia da UE é também o país com o maior número de assentos no Parlamento Europeu. São 96 cadeiras ocupadas pelos alemães.
Na França, o partido de extrema direita de Marine Le Pen superou significativamente o partido pró-negócios do presidente Emmanuel Macron, levando-o a convocar eleições legislativas antecipadas. O forte apelo anti-imigração do partido Reunião Nacional de Le Pen conquistou a maioria dos 81 assentos franceses no Parlamento Europeu, enquanto Macron enfrenta críticas pela gestão econômica e pelo aumento da sensação de insegurança nas cidades francesas. Na Hungria, o partido Fidesz do primeiro-ministro Viktor Orbán ganhou, mas com menos apoio que em 2019.
Entretanto, pouco vai mudar, inicialmente, na liderança da Comissão Europeia, já que Ursula von der Leyen provavelmente será reeleita como Presidente da comissão europeia. Para garantir essa continuidade, ela terá apoio de variados espectros políticos na Europa. Inclusive da Chefe de Estado italiana, Giorgia Meloni, ultradireitista, considerada neofascista, por parte da comunidade internacional democrática. O partido de Meloni, Irmãos da Itália, vai dobrar seus assentos no Parlamento Europeu.
Assim, a mudança brusca em direção à extrema direita é a consolidação de um movimento que começou há alguns anos no continente europeu. O debate está concentrado em questões que elevam discordâncias a níveis ainda não vistos na região no século XXI, principalmente em temas como a guerra na Ucrânia, em Gaza, o asilo a refugiados e a crise climática.
E o que essa forte onda de direita significa para o "Green Deal" europeu, o plano para reduzir conjuntamente os gases de efeito estufa?
É claro que a migração dos eleitores deve ser analisada em detalhes, mas as primeiras análises que ouvimos desde domingo são de que a população europeia votou a favor da segurança econômica e contra as políticas climáticas implementadas nos últimos anos.
Isso tudo se expressa pelo desejo de reduzir ou impedir regulamentações burocráticas penosas, como o controle de agrotóxicos, as exigências de reduções quanto à emissão de gases de efeito estufa e a restrição da poluição da água, muitas vezes criticada por frear parte da indústria que não quer ou não consegue se adaptar.
O resultado dessas eleições é um retorno ao chamado pragmatismo. Uma volta ao medo das diferenças e da utilização do protecionismo como escudo para pautas que exigem diálogo e cooperação internacional. Trata-se de uma opção pela irracionalidade e pelo afastamento de cenários futuros positivos, não apenas para a Europa, mas para a humanidade. Portanto, devemos nos atentar e nos levantar como oposição e em favor de soluções baseadas em conhecimento e otimismo .