A costa brasileira tem mais de 8.000 quilômetros, compreende 17 estados e 274 municípios. Essa é a região na qual a população mais cresce no país e a previsão é de que as cidades litorâneas continuem crescendo no futuro próximo. Junto com este crescimento populacional, aumenta também o lixo que impacta negativamente a qualidade da zona costeira, acumulando-se nas praias. Estudos sobre a quantidade de lixo em 155 praias brasileiras contemplando 167 amostragens demonstram que a maior parte desses locais está extremamente suja. O Brasil está entre os maiores produtores e consumidores de plástico do mundo e é o 4º país que mais gera resíduo plástico. Mais preocupante ainda é o fato de parte desse resíduo virar lixo no mar. No ranking dos maiores poluidores do Oceano por plástico, o Brasil ocupa a 16ª posição .
O setor de turismo movimenta uma grande cadeia produtiva no Brasil. Nos períodos de verão, a população flutuante das cidades litorâneas pode aumentar em 500%, de acordo com a Fundação de Economia e Estatística. Em períodos de maior intensidade turística, a produção de lixo em cidades costeiras, sobretudo de plástico, chega a mais que dobrar. Ironicamente, as atividades turísticas, que dependem de um ambiente limpo contribuem para o lixo no mar.
No sul do país, um estudo estimou que o aumento da concentração de lixos em praias pode levar a uma perda anual de 880 mil a 8,5 milhões de dólares para o município . No entanto, para precisar o prejuízo orçamentário de todo o setor do turismo no país associado à poluição e degradação ambiental é necessário acrescentar os prejuízos ambientais, sociais, culturais e econômicos das comunidades tradicionais, que dependem da saúde do Oceano para garantir seu modo de vida.
O impacto do resíduo plástico no viver das comunidades tradicionais situadas na costa brasileira ameaça suas práticas de subsistência. Em muitas comunidades situadas em áreas remotas, a gestão do próprio resíduo é um desafio, agravado pelo volume extra gerado pelo turismo e/ou pelo aporte marinho.
Dentre as alternativas de renda para as comunidades costeiras, o turismo de base comunitária (TBC) é uma alternativa ao turismo predatório. O TBC se beneficia de ecossistemas costeiros saudáveis e da presença de comunidades tradicionais para proporcionar experiências culturais em contato direto com a natureza. Assim, comunidades têm uma atividade de subsistência que garante o protagonismo comunitário, a perpetuação e divulgação de sua cultura e conhecimento local e a permanência em seus territórios.
Para combater o problema de gestão de resíduo no país, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei 12.305/2010) reuniu instrumentos que buscam envolver toda a cadeia produtora do resíduo em sua gestão. No entanto, em seus dez anos de existência, pouco avanço foi registrado. Embarcando em uma onda internacional de combate aos resíduos marinhos, em 2019, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (PNCLM), cuja abordagem inovadora propõe um grande envolvimento social. No entanto, assim como a PNRS, a implementação do PNCLM tem se mostrado nada efetiva para combater o lixo no mar.
A crise do plástico está associada a um desenvolvimento dependente da exploração de combustível fóssil e de padrões de consumo insustentáveis. É preciso considerar que este é um problema social, e que a sociedade tem que estar preparada e ter condições de participar da transformação de hábitos. Estamos imersos numa maré de plástico em nosso dia a dia que nos remete para um tipo de enfermidade pandêmica.
Precisamos adotar soluções para a “plasticodemia”, atualmente fora de controle. A crise do plástico pode ser vencida: é preciso encontrar alternativas para ressignificar a atual situação, fortalecendo a logística reversa e a economia circular. A solução para crise do plástico no turismo e em todos os outros setores envolvidos depende de boas práticas de governança, com gestão integrada e participativa.