Roubos, proteção patrimonial e letalidade no Rio de Janeiro
Quais são as relações entre o aumento dos crimes contra o patrimônio e o direcionamento do uso da força pelo Estado no contexto da crise socioeconômica que atinge a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) nos últimos anos? Os pesquisadores Daniel Veloso Hirata e Carolina Christoph Grillo exploram as correlações entre a piora dos indicadores socioeconômicos e o aumento da incidência de roubos na região e desenvolvem a hipótese de que as operações policiais e militares têm sido cada vez mais direcionadas à proteção patrimonial em detrimento da defesa da vida. Por fim, trazem argumentos de que parte do aumento da letalidade decorrente de intervenção policial/militar está relacionado ao empenho das forças da ordem em garantir a circulação e posse de riquezas, face ao aumento da pobreza.
Não se trata aqui de estabelecer uma correlação linear entre pobreza e criminalidade, mas de propor uma reflexão sobre as alterações produzidas pela chamada “crise” nos mercados de trabalho criminais e não criminais, assim como nas relações entre as cadeias de aprovisionamento de diferentes produtos e serviços legais e ilegais.
O estudo analisa também como nos últimos anos foi sendo exercida uma pressão política de entidades empresariais sobre o planejamento das ações em segurança pública no Rio de Janeiro, em especial a intervenção militar ocorrida no estado em 2018. Por fim, investiga-se as correspondências entre essas ações direcionadas à proteção patrimonial (operações policiais e militares de incursão nos chamados “territórios da pobreza” ou de “vulnerabilidade social”) e a letalidade decorrente de intervenção policial/militar, em série histórica.
Sumário
Introdução
1. Crime e crise
- 1.1. O aumento dos crimes patrimoniais e o roubo de cargas
- 1.2. Crise socioeconômica: desocupação, pobreza e poder de compra
- 1.3. Relações entre crimes patrimoniais e crise socioeconômica
- 1.4. Transformações nas dinâmicas dos mercados criminais no contexto da crise
2. O direcionamento do uso da força do Estado
- 2.1. A pressão das entidades empresariais
- 2.2. Operações policiais
Conclusão
Apêndice: Nota metodológica
Referências bibliográficas