Joanna Maranhão: “O modelo de gestão foi o de apostar nos potenciais medalhistas olímpicos. Não deu certo”

Joanna Maranhão medalhista

Böll Brasil: Estamos completando um ano da realização das Olimpíadas no Brasil. Qual o balanço que você faz desse período pós-Jogos?

Joanna: O que já se esperava: estruturas não utilizadas, praticamente nenhum projeto de extensão ou legado dos jogos, corte no investimento dos atletas de alto rendimento...

Böll Brasil: Você considera que os Jogos Olímpicos deixaram um legado para a cidade do Rio de Janeiro? Qual é este legado, em termos de infra-estrutura urbana e esportiva, e de construção de políticas públicas na área do esporte?

Joanna: Em termos de mobilidade urbana aparentemente melhorou nas imediações onde aconteceram os jogos. Isso é bacana para a população que utiliza transporte público. Quanto às instalações esportivas, só vejo mesmo o [Parque Aquático] Maria Lenk sendo utilizado.

Böll Brasil: A preparação do Brasil para as Olimpíadas não teve um formato de preocupação com a construção de um ambiente esportivo sólido no país. Você acha que isso influenciou no fato de o Brasil não ter atingido suas metas em termos de resultados?

Joanna: Sim, o modelo de gestão escolhido foi o de apostar nos potenciais medalhistas olímpicos e torcer pra que desse certo. Não deu. Eu vi o Canadá crescer absurdamente nos últimos 3 anos e competirem muito forte nos jogos na natação. Se eu fosse gestora, já teria ido lá pra saber o que foi feito. Mas até agora não existe nenhuma preocupação com isso.

Böll Brasil: Você já participou de quatro Olimpíadas. Como você entende o que o Brasil produziu se comparado com o que você viu em outros países?

Joanna: A gente não tem um projeto esportivo. A gente vai apoiando quem vai aparecendo e se, eventualmente, esse atleta não tiver o resultado esperado, ele é escanteado e abre-se lugar para outro.

Böll Brasil: Você foi muito atacada por conta de suas posições políticas – especialmente nas redes sociais. Você se sentiu apoiada por colegas e dirigentes?

Joanna: Nem colegas e muito menos dirigentes. Sempre foi um silêncio sepulcral. Nós não somos um time, nunca fomos. Esse é o legado da antiga gestão da CBDA [Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos]: um grupo de atletas e treinadores que utiliza o mesmo uniforme, porém não é unido.

Böll Brasil: As mulheres no esporte profissional têm menos incentivos institucionais, de patrocínio e governamental do que os homens. A que você atribui?

Joanna: Em primeiro lugar, o esporte de alto rendimento feminino é mais recente, logo, a gente ainda não teve as mesmas chances e oportunidades de buscar os resultados atingidos pelos homens. Eu tenho visto melhora nesse sentido. Pouca, mas existe.