Agronegócio e biocombustíveis: uma mistura explosiva - Publicações

Impactos da expansão das monoculturas para a produção de bioenergia

Sergio Schlesinger

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Anuncia-se o fim da era do petróleo. O fim da queima de combustíveis fósseis é, por si só, uma boa nova para a humanidade e para a atmosfera da Terra: uma opor tunidade para reduzir o aquecimento global. O chamado efeito estufa, sabemos, não é no entanto o único problema ambiental com que nos defrontamos. Assim como os problemas ambientais não são o único desafio para o Brasil e o mundo. Os biocombustíveis – álcool da cana-de-açúcar, o biodiesel da mamona, dendê, soja e o carvão vegetal – surgem como alternativa não só mais limpa, mas também capaz de gerar renda para o trabalhador no campo e, assim, promover a justiça social. Grande disponibilidade de terras e clima favorável fazem com que o Brasil possa a vir a ser grande beneficiário da nova era da história da energia, que já começou.

O Brasil já é grande produtor de álcool, óleo de soja e car vão vegetal. Boa parte desta produção vem sendo direcionada, de forma crescente, para o mercado externo. O regime de monocultura sob o qual são cultivados estes bens, no entanto, tem resultado em grandes prejuízos para a sociedade e o meio ambiente no Brasil. A concentração da propriedade da terra, da riqueza e da renda, a destruição de florestas, a contaminação do ar, do solo e das águas, a expulsão de populações rurais são as marcas que este modelo de produção vem espalhando sobre o território, ao longo de nossa história. Para que estas novas fontes de energia mereçam ser chamadas de limpas, renováveis

ou sustentáveis, novos padrões de produção e de consumo precisam ser adotados. E, do cultivo à comercialização, a agricultura familiar deve ocupar o papel principal. Contrastando com o modelo devastador do agronegócio, novas práticas econômicas sociais e ambientais vêm sendo ensaiadas. Caso recebam o estímulo necessário, elas podem se transformar no combustível para a democracia e a justiça social que o Brasil tanto precisa.