Encontro do Iser discute mídia e religião

A crescente midiatização da religião no Brasil se tornou uma poderosa ferramenta que exerce influência significativa no âmbito da política e da comunicação.  Sob este enfoque, o Instituto dos Estudos da Religião (Iser) promoveu o encontro “Mídia e Religião: um debate sobre religião, política e democratização da comunicação no Brasil”, realizado durante o Fórum Social Temático em Porto Alegre (RS), no dia 26 de janeiro de 2012.

Na presença da doutora em teologia e especialista em comunicação e religião, Nívia Nuñez, da mestranda do grupo de pesquisa Mídia e Religião (Unisinos), Thamiris de Souza, e do professor de antropologia e especialista em religião (UFRGS), Emerson Giumbelli, a mesa abordou três temas: a percepção pública das religiões na mídia; o papel das religiões na construção da democracia; e o papel do Estado na relação entre mídia e religião.  A secretária de Promoção dos Direitos Humanos (SDH/PR), Nadine Borges, e o secretário-executivo do Iser, Pedro Strozenberg, também participaram do debate.

Um dos pontos destacados foi o uso da internet e das redes sociais pelas igrejas e movimentos religiosos como dispositivos para a divulgação de mensagens religiosas. Twitter, Facebook, Orkut e Digg, entre outros, foram analisados como plataformas de interação, tanto entre fiéis como entre igreja e seus devotos, ultrapassando os tradicionais meios de comunicação em abrangência, atualização e informação. No estudo de caso sobre o Círio de Nazaré, apresentado por Thamiris de Souza, as adaptações da instituição frente às novas tecnologias incluem a possibilidade de acender uma vela virtual no portal online e o uso das redes sociais para interagir com os fiéis, por exemplo.

Os participantes apontaram três níveis de construção da influência religiosa na mídia. Primeiro, destacaram que tal fenômeno tem se dado por meio de lideranças religiosas que detêm veículos de comunicação.  O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário da Rede de Televisão Record, foi citado como caso emblemático dessa realidade. Neste sentido, a construção de um mecanismo de controle das redes de comunicação é legitimada por uma determinada opinião editorial, por exemplo.

O segundo nível se faz evidente pela múltipla presença de programas religiosos espalhados pela grade de programação de toda a mídia, não apenas restrita aos veículos religiosos. Tais atrações têm penetrado em espaços privados de forma acentuada, como se faz notar pelo Grupo Bandeirantes.

Já o terceiro nível diz respeito à visibilidade das diferentes religiões na mídia e o caráter persuasivo do discurso existente,  que contribui para a pluralização e diversificação, tanto em forma como em conteúdo, da mídia religiosa como um todo. Segundo Emerson Giumbelli, a produção cultural, como a verificada no movimento Gospel e a consequente comercialização de livros e CDs, entre outros artigos, assim como a regularização das redes públicas e a concessão dos veículos de comunicação permitem que as religiões exerçam um papel significativo na construção e consolidação de opiniões. Portanto, faz-se necessário repensar e discutir a regulamentação das concessões dos espaços públicos dos variados canais de comunicação, considerando-se o princípio democrático de manifestação livre de grupos religiosos nestes meios.

Nadine Borges destacou que, desde a posse da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, a sociedade civil e as igrejas têm se organizando no recém-criado Comitê da Diversidade Religiosa, vinculado ao órgão. Ela reconheceu o limitado orçamento da pasta, mas defendeu que o conteúdo promovido pela secretaria possui grande visibilidade devido à ampla possibilidade de articulação.

De acordo com ela, outro ponto importante são as denúncias contrárias aos direitos humanos, que vêm ganhando notoriedade na mídia. Mas, enquanto espaços são conquistados,  emerge também o discurso de grupos radicais. Neste sentido, Nadine Borges identifica a ausência de políticas públicas que considerem a autonomia dos grupos religiosos e da comunicação na mídia.

* Alena Pachioni cursa Ciências Humanas na Birkbeck University of London.

Foto: Esther Rase CC BY-NC-SA 2.0