Alemanha: manifestação critica defesa da agroindústria pelo governo

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Manifestantes em ação Foto: Andreas Behn

 

Cerca de 23 mil pessoas participaram no sábado (21/01) de uma grande marcha contra a política agrária da Alemanha e da Comunidade Europeia. Mesmo sob chuva e muito frio em Berlim, a manifestação com o lema “Basta. Agricultura Familiar em vez de Agroindústria!” conseguiu mandar um forte sinal de protesto às autoridades.

Alvo das críticas foi a ministra da Agricultura, Ilse Aigner, que dias antes causou indignação entre muitos camponeses e consumidores. Ela disse que a fome no mundo “só pode ser combatida pela intensificação da agricultura europeia”. Argumentando com a fome de outros, ela se posicionou “contra a soberania alimentar local e a redução da produção de alimentos com base na indústria agrícola internacional”.

Organizações de política de desenvolvimento e de camponeses afirmaram que é inaceitável usar a fome no mundo para defender o agronegócio. Eles defendem a agricultura familiar e em pequena escala como modelo sustentável para a produção de alimentos, muitas vezes mais saudáveis do que os industrializados. E lembram que são os danos ecológicos causados pelo agronegócio que dificultam a segurança alimentar em muitos países.

Outra pauta da manifestação foi a crítica da exportação agrícola por parte dos países industrializados, que dificultam o desenvolvimento de uma agricultura local em muitos países do Sul. “A causa da fome não é a falta de alimentos, mas a falta de terra e de meios de produção” afirmou King David Amoah, representante da redes camponesas em Gana e na África Ocidental, presente na manifestação.
 

Campanha “Minha Agricultura”

O protesto aconteceu no início da Semana Verde, uma das maiores feiras de agricultura do mundo. O evento contou com a presença de uma delegação brasileira, formada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, e representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Entre as exigências do movimento está o fim do uso de antibióticos na criação de porcos e bovinos, que cada vez mais prejudicam os alimentos com resíduos nocivos para a saúde humana. Outra crítica é dirigida à expansão das monoculturas, responsáveis pela diminuição da biodiversidade e exploração da terra.

A alternativa à agroindústria, segundo a campanha “Minha Agricultura”, seria uma agricultura ecológica e familiar, baseada em princípios da sustentabilidade. Em lugar da especulação com alimentos nos mercados mundiais, vista como causa de fome em muitos países, as organizações propõem uma mudança de sistema. O novo caminho da agricultura seria importante também frente ao desafio da crise climática e das necessidades de uma proteção real dos consumidores.

“Estamos importando seis milhões de toneladas de soja de países do Sul para alimentar o nosso gado e exportamos a preço abaixo do mercado produtos agrícolas para a África. Essa política é um favorecimento arbitrário do agronegócio por parte do governo da Alemanha,” critica Stig Tanzmann, agrônomo do EED (Serviço das Igrejas Luteranas da Alemanha), que faz parte da campanha.

A campanha visa influenciar a reformulação da política agrária da Comunidade Europeia prevista para 2013. Essa política tradicionalmente favorece as grandes empresas no campo e gasta bilhões de euros com o subsídio da produção agrícola. Essa subvenção tem causado uma produção de alimentos bem além das necessidades do mercado europeu. A exportação desta sobra de alimentos tem como graves consequências as distorções na produção de alimentos em muitos países da África e da América Latina.

Martin Morisse, da Associação Federal dos Produtores de Leite (BDM), afirma que “dinheiro público tem que beneficiar a sociedade e não enriquecer a agroindústria. O governo alemão deve rever a sua posição em vez de seguir bloqueando a reforma da política agrícola do bloco europeu.”

*Com adaptação hbs.

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