Entre conservação, direitos e comercialização: A Convenção sobre Biodiversidade no processo de globalização e as chances de uma política democrática de biodiversidade

Por muito tempo, o acacompanhamento das negociações das COPs (Conferences of The PaParties) da Convenção de Biodiversidade estava restrito a um mundo pequeno de ONGs espececializadas – e, normalmente, grandes ONGs. Isso mudou em 2006 em Curitiba. PePela primeira vez, uma COPOP se tornou um ponto de mobilização dos movimentos sociais, espececialmente das mulheres da Via Campesina. Para muitos atores ficou mais evidente que a questão central hoje não se restringe mais ao controle da terra somente.

O controle das sementes é tão importante quanto o acesso à terra e aos recursos naturais. A CDB (Conferência da Biodiversidade) oferece algumas possibilidades de restringir a expansão das sementes transgênicas e, especialmente, das novas gerações de transgênicos como o Terminator, por exemplo. Assim, dentro do contexto de acordos internacionais, a CDB parece ser realmente um avanço.
Diante disto, aqui está a importância do texto do professor Ulrich Brand. Ele retrata a CDB como um campo de conflitos, com elementos positivos e problemáticos – e inseridos num contexto de outros processos de regulamentação, como os tratados sobre propriedade intelectual. Assim, a questão da proteção da biodiversidade deixa de ser apenas um assunto “simpático”, apoiado por todos, demonstrando que ainda faltam avanços concretos. O assunto central é o controle sobre os recursos genéticos. Nas palavras de Ulrich Brand:

No contexto da globalização, a dinâmica da política internacional da biodiversidade é decorrente não tanto das necessidades de proteção ou detenção da erosão da diversidade biológica, mas sobretudo do multifacetado interesse de comercialização desta diversidade. Isto traz outros conflitos que são tratados no contexto da Convenção (e da FAO). Isto não diminui o interesse pela proteção e conservação da biodiversidade, mas sem dúvida o deixa à sombra dos interesses da comercialização. Muitos atores supõem que a proteção e a conservação da biodiversidade serão uma realidade somente quando lhe for atribuído um valor econômico, ou seja: para ser eficaz a preservação da natureza precisa se mostrar economicamente lucrativa.

Assim, o autor marca o ponto central das discussões atuais sobre proteção e conservação. O texto é uma bela introdução às questões conceituais envolvidas, com posicionamentos claros contra o pensamento dominante que vê na valorização econômica o único caminho viável para manter a biodiversidade.

Por: Thomas Fatatheuer
 

Detalhes da publicação
Data da publicação
2006
Editor/a
Fundação Heinrich Böll Brasil
Número de páginas
57
Licença
Idioma da publicação
Português
Índice

1. Introdução PÁG 11
2. O contexto histórico: globalização e diversidade biológigica PÁG 12
3. O complexo papel da CBD   PÁG 15
4. Problemas e conflitos atuais no processo da CBD CBD PÁG 18
4.1 Acesso, repartição de benefícios e direitos de propriedade intelectual:
perspectivas de um regime internacional de ABS; PÁG 18
4.2 Preservação da diversidade biológica e
introdução de sementes geneticamente modificadas; PÁG 22
4.3 A funcionalização das populações indígenas e comunidades agrícolas; PÁG 23
4.4 Deficiências da implementação; PÁG 25
4.5 Sobre a falta de coerência inerente à CBD e em relação a outras Convenções; PÁG 27
4.6 Forum-shifting; PÁG 30
4.7 Desequilíbrios estruturais de poder estão mantidos PÁG 32
5. O que o processo da CBD  não contempla: PÁG 35
5.1 Desenvolvimentos tecnológicos de difícil regulamentação; PÁG 36
5.2 Biopirataria e a crescente militarização da apropriação da natureza; PÁG 36
5.3 Relações de gênero assimétricas.
6. A importância do MiMillenium Ecosystem Assessment PÁG 39
7. Oportunidades da política democrática de biodiversidade PÁG 42
7.1 Democratização da ciência e do desenvolvimento tecnológico; PÁG 42
7.2 Tornar públicas as práticas e os responsáveis pela biopirataria; PÁG 43
7.3 Tornar visíveis as necessidades dos atores mais fracos; PÁG 44
7.4 Promover não apenas a participação dos atores mais fracos
mas também os direitos demandáveis em juízo. PÁG 46
8. O papel das organizações da sociedade civil PÁG 48
9. A caminho da COP 9 de 2008 na Alemanha PÁG 53
Referências bibliográficas PÁG 57