Editorial Newsletter | Maio/Junho, 2022

A gente não precisa dar conta de tudo

Impressões pessoais de Sabrina Strauss

Esses dias, no meio de uma dessas conversas filosofais com uma amiga, eu afirmei categoricamente: - Eu não dou conta de tudo. Estou cansada.

Ela me perguntou como era assumir isso. No meu caso, aceitando as minhas limitações. Lidando e reconhecendo as consequências que isso me traz, entendendo que não posso ter tudo, que nem sempre serei a melhor pessoa do mundo, que sou humana, que não sou a única a ter defeitos. Seleciono prioridades e foco no que é possível naquele momento. Se hoje o que deu foi macarrão instantâneo, amanhã a prioridade será uma comida fresquinha.

Fico pensando no tanto que nos cobramos diariamente, quase sem conseguir respirar. Lembro da velha e terrível frase: "Engole o choro." E eu sigo, muitas vezes sem nem sentir o dia passando. Confesso que às vezes sinto falta de alguém que espante alguns temores de forma leve, que quem olhe de fora pense que é apenas um cafuné, mas se trataria de um recado velado: "Vai dar certo!"

Está tudo bem varrer algumas coisas para debaixo do tapete. Ele nunca vai ficar vazio então também me perdoo. Como um brigadeiro de colher escondido porque não quero dividir com ninguém, choro um pouco e prometo amanhã tirar mais algumas coisas debaixo do tapete, ouvindo minha música preferida. E é assim - frustrante, alegre, desesperador, feliz. Um constante varre, esconde, esvazia. Todas temos os nossos tapetes. Uns mais visíveis, outros nem tanto, mas sem eles, a gente enlouqueceria.

Por trás disso tudo, existe uma mulher, uma mãe comum. Que erra. Acerta. Tenta. Cansa. Com dias bons, cafezinhos em boa companhia, livros bem lidos, risos que afugentam os medos e eliminam as rugas e outros do tipo: quem sou eu? Quem são essas pessoas? Posso desaparecer e não ser eu por pelo menos algumas horas por dia?

Maturidade é contar a história completa sem pular a parte em que você também erra. Presto atenção nos meus ciclos, caio e levanto (cada vez mais ágil – diga-se de passagem) porque no final, sempre dá certo.

Viver é isso – é difícil, mas é maravilhoso!