Ninguém Entra, Ninguém Sai: Mobilidade urbana e direito à cidade no Complexo do Alemão
O tema da mobilidade urbana tem ganhado mais e mais atenção da mídia e de pesquisadores, em especial após os investimentos feitos com a realização dos megaeventos no Brasil. Cercados de polêmica, Copa do Mundo de Futebol e Jogos Olímpicos impulsionaram um investimento de R$ 69,3 bilhões, em sua grande parte feito pelo poder público. A mobilidade urbana teve papel de destaque nas cidades-sede da Copa e no Rio de Janeiro, sede dos dois eventos, foram investidos cerca de R$ 18 bilhões nos últimos oito anos. BRT, VLT, metrô, construção de túneis e vias expressas criaram a expectativa de que se ganharia tempo, se diminuiria engarrafamentos na cidade, se teria mais segurança, e com as obras, maior oferta de emprego. O ciclo de 10 anos de megaeventos terminou e parte das expectativas não se concretizou. Os engarrafamentos continuam, quase 50% desse recurso foram gastos com apenas cinco estações do metrô. O BRT já está esgotado, o VLT é um transporte utilizado realmente apenas em um período de duas horas do dia, os empregos terminaram e o Rio de Janeiro passa por uma grave crise econômica.
Os investimentos em mobilidade estiveram voltados para atender a zonas específicas da cidade. As favelas tiveram pouca atenção nos planos de mobilidade. O teleférico do Complexo do Alemão e o do Morro da Providência foram as grandes obras em mobilidade para as favelas. Mas, desde outubro de 2016, o do Alemão encontra-se fechado. O mesmo acontece com o da Providência desde dezembro. Foram investidos cerca de R$ 210 milhões no Alemão e R$ 75 milhões na Providência. Para moradores o teleférico tinha alguma utilidade, apesar de não ser o serviço ideal para certas zonas. É o que nos mostra um dos resultados da pesquisa financiada com recursos da Fundação Heinrich Böll Ninguém entra, ninguém sai: mobilidade urbana e direito à cidade no Complexo do Alemão, dos autores Sérgio Veloso e Vinícius Santiago, feita em parceria com o Brics Policy Center e o coletivo Papo Reto. A pesquisa nos dá pistas para entender a qualidade do acesso à cidade dos moradores do Alemão e sua conexão com outros temas como a violência urbana, as desigualdades de gênero e a relação dessas pessoas com o restante da cidade.
O ir e vir pressupõe segurança, conforto e previsibilidade dos meios de transporte e do local em si. Para pais e mães segurança em trafegar com seus filh@s pela favela. Reféns da guerra às drogas, os moradores do Alemão sofrem com tiroteios constantes, a violência policial e um completo descaso do estado com a morte de civis. Os depoimentos dos moradores mostraram que a atenção tem de ser especial, inclusive com táticas de como se mover em meio a situações de tiroteio ou lidar com uma polícia que vê todos e todas como possíveis integrantes de facções criminosas.
A Fundação Heinrich Böll, desde a inauguração de seu escritório no Rio de Janeiro, em 2000, trabalha apoiando organizações e movimentos da sociedade civil para que a voz dos moradores seja ouvida, para que políticas públicas reconheçam seus direitos. Essa foi também a intenção da publicação, perguntar a eles, moradores e moradoras do Alemão, como veem a questão e como podemos a partir de suas demandas exigir juntos políticas públicas de qualidade na área da mobilidade e pensar novos arranjos sociais e tecnológicos para dar conta do desafio de construção de uma cidade mais inclusiva e acessível a tod@s.
Agradecemos aos autores por terem aceitado nosso convite e com dedicação e compromisso brindar-nos com um material que serve de ferramenta para muitas discussões. Ao Brics Policy Center e ao coletivo Papo Reto, em especial Thainã de Medeiros e Renata Trajano.
Detalhes da publicação
Índice
Apresentação - 11
Introdução - 13
1. Da pesquisa - 16
Mobilidade urbana como direito à cidade - 16
Desenhando a pesquisa - 18
O que aprendemos com os questionários? - 23
2. Da violência como fato - 31
Nem entra, nem sai - 31
A força dos moradores - 34
Referências Bilbiográficas - 39
Conclusão - 40
Anexo: Questionário - 41
Encarte mapa: Mobilidade urbana e violência no Complexo do Alemão