Por um modelo econômico mais igualitário e solidário

Reinhard Loske em palestra
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Professor Reinhard Loske, a convite da Fundação Heinrich Böll, apresenta em palestra suas ideias sobre futuro da economia

Na última semana de fevereiro, a Fundação Heinrich Böll promoveu uma série de debates sobre decrescimento econômico com a presença do professor Reinhard Loske, da Universidade de Witten na Alemanha. A edição em São Paulo do debate “Porque o crescimento pode ser um problema para o nosso futuro” aconteceu no dia 27 de fevereiro, e os palestrantes convidados apresentaram alternativas para um modelo econômico mais plural, igualitário e sustentável.

Além do professor Reinhard Loske, a mesa de debates foi composta por Miriam Nobre, da Sempreviva Organização Feminista (SOF); Roni Barbosa, dirigente da Central Única de Trabalhadores (CUT); Guilherme Mello, pesquisador da UNICAMP, professor da FACAMP e colaborador da Fundação Perseu Abramo; e moderada pelo diretor da Fundação Heinrich Böll no Brasil, Dawid Bartelt.

Abrindo o debate, o professor Reinhard Loske introduziu suas ideais de construção de uma economia mais sustentável que não prejudique ainda mais a natureza e seus recursos finitos. “Em meio a esta crise hídrica que São Paulo está enfrentando, eu me pergunto: por que tentar contê-la com medidas de um modelo que está fadado a se esgarçar? Por que não procurar alternativas mais sustentáveis, como estas que estamos debatendo aqui?”, indagou o professor, que citou exemplos como economia do compartilhamento, economia do prossumidor (em que a produção e o consumo não estão dissociados, permitindo maior conhecimento sobre as coisas e a estimativa de valor) e o fortalecimento das economias regionais.

Miriam Nobre, ativista da SOF, destacou a importância de um modelo econômico com participação e igualdade. Desde uma perspectiva feminista, a proposta da economia solidária visa valorizar ainda mais as mulheres e as noções de tempo e de bem-estar em meio à esfera produtiva do trabalho. Mas, segundo ela, o que se vê hoje é um campo de forças desigual. “Em um sistema integrado em que se entende a necessidade de todos cuidarem e serem cuidados, as mulheres cuidam mais do que os homens, e mulheres negras mais do que mulheres brancas”, afirma.

Todos os convidados insistiram na importância de se pensar um novo modelo de economia que busque o progresso e bem-estar dos povos, sobretudo os marginalizados, como as mulheres e a classe trabalhadora. Guilherme Mello, colaborador da Fundação Perseu Abramo, pontuou: “Os países em desenvolvimento olham para os países desenvolvidos e pensam: ‘Como é que eles conseguiram chegar lá? Então faremos do mesmo jeito’. Porém há modelos alternativos que por não seguirem o capitalismo da elite, não cometem os mesmos erros, como o exemplo de Cuba”. O membro da executiva nacional da CUT, Roni Barbosa, sustentou que o crescimento econômico seria necessário para atribuir mais dignidade à vida dos trabalhadores brasileiros. Por outro lado, defendeu que os trabalhadores devem se comprometer com o desenvolvimento sustentável, contribuindo para a defesa dos recursos naturais.

De modo geral, os debatedores apontaram a deficiência do modelo econômico vigente em beneficiar as camadas mais negligenciadas da população urbana e indagaram possíveis rumos do capitalismo em países periféricos, como o Brasil e os outros países BRICS. O evento foi transmitido ao vivo e acompanhado por mais de 400 pessoas. Em breve, a Fundação Heinrich Böll lançará uma publicação com os conteúdos dos debates.

Assista aqui a gravação do evento.

Leia um ensaio do professor sobre o tema.