Oficina na COP12 debate direitos das comunidades tradicionais raizeiras do Cerrado

Capa do protocola das comunidades raizeiras
Teaser Image Caption
Capa do protocola das comunidades raizeiras

Abaixo, texto publicado na íntegra na Terra de Direitos

Nesta segunda-feira (6), dia da abertura oficial da 12ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica, na Coréia do Sul, a Articulação Pacari e a Terra de Direitos realizaram uma oficina sobre o Protocolo Comunitário das Raizeiras do Cerrado. Mais de 25 pessoas de diversos países, como a Malásia, Japão, Equador, Venezuela, Madagascar e Argentina, participaram do espaço. Também esteve presente representante da secretaria da Convenção da Diversidade Biológica, da Via Campesina Brasil, do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA e do governo brasileiro.

O Protocolo Comunitário das Raizeiras do Cerrado é uma experiência inédita no Brasil, criada graças aos esforços das próprias mulheres raizeiras, que pouco podem contar com o apoio do poder público. O documento busca criar instrumentos políticos para que se garanta o direito de exercício da medicina tradicional. Além disso, ele deve contribuir na luta pela promoção, manutenção e respeito dessas práticas. A importância das raizeiras na conservação ambiental, e o impacto da construção de grandes projetos na região de Cerrado também devem ser reconhecidos.

A construção da identidade social das raizeiras do Cerrado foi apresentada pela Pacari como estratégia para conquistar o direito de exercer a medicina tradicional e poder demandar políticas públicas de proteção ao conhecimento tradicional e de conservação do Cerrado. A Articulação Pacari é responsável pela criação da primeira famacopéia popular do Brasil.

O direito dos Povos e Comunidades Tradicionais de manter as suas tradições tem sido negligenciado pelo poder público nacional. Há casos de criminalização das práticas tradicionais de cura e impedimento da continuidade, utilizando entraves burocráticos por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

O Protocolo Comunitário das Raizeiras do Cerrado na versão em inglês foi distribuído aos participantes da oficina e deve ser lançado oficialmente em português no Encontro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que deve ocorrer em novembro deste ano.

Consulta prévia

Também foram destacadas as violações do Estado brasileiro ao direito de consulta e consentimento livre, prévio e informado dos povos e comunidades tradicionais, como indica a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Um dos casos recentes é do Projeto de Lei – PL 7735/2014, que tramita em regime de urgência com o objetivo o acesso os conhecimentos tradicionais e recursos genéticos associados, ressaltando o aspecto financeiro em detrimento dos benefícios não monetários.

Os elementos relacionados ao direito à consulta prévia foram apresentados pelo advogado popular da Terra de Direitos, André Dallagnol, que participa da COP12. Neste ponto, houve manifestações do governo brasileiro expondo as dificuldades de atingir a participação da multiplicidade de povos indígenas e comunidades tradicionais existentes no Brasil.

Dallagnol destacou a pouca disposição do estado no sentido de desenvolver métodos diferenciados de participação popular, mecanismo também previsto na Convenção 169 da OIT. No processo de elaboração do PL 7735/2014, entidades e movimentos dos povos indígenas e comunidades tradicionais não foram ouvidos ou envolvidos.

 

Para acessa o Protocolo, versão em inglês, clique aqui.